Daniela Mercury casou? Ou SE casou?
“Na capa da revista ‘Caras’ está o ex-marido de Daniela Mercury, dizendo: ‘Se ela houvesse casado com um homem, não mudaria nada para mim’. Ocorreu-me uma dúvida: gramaticalmente correto seria ‘se ela houvesse SE casado’ ou ‘se ela houvesse casado’? Obrigada.” (Tallyta de Oliveira Cardoso) Compreende-se a dúvida de Tallyta, mas as duas construções estão […]

“Na capa da revista ‘Caras’ está o ex-marido de Daniela Mercury, dizendo: ‘Se ela houvesse casado com um homem, não mudaria nada para mim’. Ocorreu-me uma dúvida: gramaticalmente correto seria ‘se ela houvesse SE casado’ ou ‘se ela houvesse casado’? Obrigada.” (Tallyta de Oliveira Cardoso)
Compreende-se a dúvida de Tallyta, mas as duas construções estão certas: embora a forma com pronome (casar-se) seja a mais tradicional, faz tempo que gramáticos e dicionaristas, inclusive os mais conservadores, reconhecem a forma sem pronome (casar) como igualmente correta.
“Quero me casar/ na noite na rua/ no mar ou no céu/ quero me casar”, escreveu Carlos Drummond de Andrade num famoso poema de “Alguma poesia”. “Onde é que eu perdi aquele rapazinho que casou comigo mais virgem do que eu?”, escreveu Ivan Angelo em “A festa”.
O emprego do pronome também é facultativo em verbos como sentar(-se), deitar(-se), quebrar(-se), cansar(-se) e derreter(-se). Chamados de pronominais, todos eles são verbos em que o pronome não é interpretado como reflexivo, mas como parte integrante da ação – pronomes inerentes, como são conhecidos em Portugal.
Outros verbos pronominais – neste caso sem a chancela dos gramáticos – têm sido vistos dispensando seus pronomes na língua das ruas. É o caso de divorciar(-se), suicidar(-se) e até mesmo, em determinadas regiões, queixar(-se). No caso destes, porém, a norma culta ainda exige o pronome.
O fato de ser facultativo o emprego do pronome em casar(-se) significa que o falante tem liberdade para usá-lo ou não segundo suas necessidades expressivas, levando em conta o ritmo e, claro, a adequação ao contexto. Não é preciso adotar uma conduta rígida: em tese, um texto pode trazer a forma pronominal aqui e dispensar o pronome três parágrafos adiante sem prejuízo da coerência.
Não há regras fixas, cada caso deve ser analisado individualmente. Como linha de força geral, contudo, pode-se dizer que a forma pronominal tende a soar mais elegante em contextos formais e corre o risco de parecer ligeiramente excessivo em situações informais. No caso da chamada de capa trazida por Tallyta, acredito que o redator tenha dispensado o pronome para evitar o eco sibilante de “houvesse se”.
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