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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

Da Paixão de Cristo à paixão amorosa

Sempre me intrigou, desde criança, a Sexta-Feira da Paixão. Por que o martírio de Cristo levava o nome que usamos para designar uma emoção intensa, quase sempre amorosa, e que pode ser até violenta e perturbadora, mas normalmente tem valor positivo? Quem não gosta de se apaixonar? Essa amplitude semântica me parecia excessiva, difícil de […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 01h42 - Publicado em 3 abr 2015, 14h00

Sempre me intrigou, desde criança, a Sexta-Feira da Paixão. Por que o martírio de Cristo levava o nome que usamos para designar uma emoção intensa, quase sempre amorosa, e que pode ser até violenta e perturbadora, mas normalmente tem valor positivo? Quem não gosta de se apaixonar?

Essa amplitude semântica me parecia excessiva, difícil de abarcar. Mas o percurso não é tão inusitado quanto parece à primeira vista. A paixão amorosa nasceu, sim, marcada pela ideia de sofrimento: o gozo só viria mais tarde. Mas para começo de conversa é preciso compreender que a paixão foi suplício físico muitos séculos antes de ser arrebatamento afetivo ou sexual.

Do latim tardio passio, passionis, ela surgiu com o sentido de padecimento atroz, em especial o de Jesus Cristo e o dos primeiros mártires da Igreja Católica. Ligada ao radical pati, é parente de palavras como passivo e paciente, e deixa entrever o apaixonado como aquele que suporta a dor. Foi com esse sentido religioso que paixão desembarcou em português no século XIII, quando era grafada como paixon ou paxon.

Em latim, uma ampliação semântica tinha se dado já nos primeiros séculos da era cristã, quando autores influentes passaram a usar passio como tradução do grego páthos, para designar doenças do corpo e perturbações morais em geral. Mas o significado de desejo intenso, de sentimento de atração que está acima da razão, só chegaria ao português e ao inglês no século XIV, por provável influência – o que não deixa de ser previsível – do francês, língua em que se começou a falar já no século XIII de passion d’amour (“sofrimento amoroso”).

Coube aos falantes dos séculos seguintes dissociar gradualmente a palavra da ideia de dor, fixando-se no arrebatamento e na entrega emocional. A sombra da doença, porém, nunca abandonou por completo a paixão. O que, pensando bem, faz sentido.

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O texto acima apareceu na coluna pela primeira vez na Sexta-Feira da Paixão de 2011.

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