Da aposentadoria de Barbosa ao pouso dos pássaros
A aposentadoria antecipada que foi anunciada ontem pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, é palavra de uma família numerosa que inclui desde primos óbvios, como aposento, até outros mais surpreendentes, como pausa, pouso e pose. A acepção de aposentadoria que hoje é praticamente exclusiva – a de afastamento do trabalho após determinado […]

A aposentadoria antecipada que foi anunciada ontem pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, é palavra de uma família numerosa que inclui desde primos óbvios, como aposento, até outros mais surpreendentes, como pausa, pouso e pose.
A acepção de aposentadoria que hoje é praticamente exclusiva – a de afastamento do trabalho após determinado tempo previsto por lei ou, antes disso, por invalidez – não foi a primeira. Ao aparecer em português, em 1451, aposentadoria queria dizer hospedagem, o ato de alojar alguém, ou hospedaria, o local onde isso se dava.
Derivava do antigo sentido do verbo aposentar (surgido no século XIII como apousentar), isto é, “dar pouso, abrigar”. Todos esses termos descendem do latim pausa, “pausa, cessação”.
Por via popular, a pausa latina deu origem a diversas palavras com o radical “pous-“, como pouso (inclusive o dos pássaros), repouso, pousada, aposento, aposentadoria e, por tabelinha com o francês, até pose (para fotografia). Por via erudita, com o radical “paus-“, pausa gerou descendentes mais imediatamente identificáveis, como a menopausa e o verbo pausar.
A ideia central do termo latino – de descanso, parada, interrupção de uma atividade – está presente de uma forma ou de outra em todos os membros da família. O pássaro pousa para descansar do voo, como na pousada descansa o viajante. A modelo posa, parada, para o fotógrafo. O aposento é onde se repousa. A aposentadoria é o próprio repouso.