Cota: em quantas partes?
A palavra cota – ou quota, numa grafia alternativa e de emprego minoritário – transformou-se, movida por uma legítima tendência da língua à concisão, na senha que identifica a política de reserva racial para estudantes de origem negra nas universidades brasileiras, que o Supremo Tribunal Federal aprovou esta semana por unanimidade. Como se sabe, tal […]
A palavra cota – ou quota, numa grafia alternativa e de emprego minoritário – transformou-se, movida por uma legítima tendência da língua à concisão, na senha que identifica a política de reserva racial para estudantes de origem negra nas universidades brasileiras, que o Supremo Tribunal Federal aprovou esta semana por unanimidade.
Como se sabe, tal metonímia tem origem no fato de que uma cota (ou seja, fração, parte, parcela) do total de vagas nos exames de acesso a instituições de ensino superior – 20% no caso da Universidade de Brasília, que motivou a ação julgada agora – é reservada a candidatos que se declararem negros e assim forem confirmados por uma comissão.
A curiosidade pouco sabida é que o substantivo cota, tão identificado com uma das políticas abrigadas sob o guarda-chuva da chamada “ação afirmativa”, teve origem numa expressão interrogativa do latim. Quot queria dizer “quantos”. Hora quota est?, por exemplo, era “que horas são?”. Nosso substantivo cota, uma palavra do século 16, veio da interrogação quota pars?, isto é, “em que número de partes?”.