‘Correr atrás do prejuízo’ está certo?
“Não há dúvida que os sabichões que condenaram ‘risco de vida’ estão errados, já que a expressão significa ‘risco de (perder a) vida’. Mas, e a também clássica e igualmente condenada ‘correr atrás do prejuízo’? Me parece óbvio que ela significa ‘correr atrás de (cobrir) o prejuízo’. Existe alguma razão para condenar a segunda e […]
“Não há dúvida que os sabichões que condenaram ‘risco de vida’ estão errados, já que a expressão significa ‘risco de (perder a) vida’. Mas, e a também clássica e igualmente condenada ‘correr atrás do prejuízo’? Me parece óbvio que ela significa ‘correr atrás de (cobrir) o prejuízo’. Existe alguma razão para condenar a segunda e absolver a primeira?” (Aldo Naletto)
Aldo tem razão ao estabelecer uma relação entre os casos de “risco de vida” e “correr atrás do prejuízo”. Nenhuma das expressões está errada e ambas enfrentam críticas semelhantes de gente apegada demais ao pé da letra. Vejo entre os dois casos uma única – mas significativa – diferença: enquanto “risco de vida” é uma locução clássica, digna de figurar nos textos mais elegantes, “correr atrás do prejuízo” não passa de um clichezão, uma frase feita de sabor popular que, dependendo do contexto, deve realmente ser evitada.
No entanto, ponderações de estilo à parte, é claro que “correr atrás do prejuízo” é inocente do crime que os literalistas lhe atribuem: “Ora”, dizem, “só um louco persegue o prejuízo, o que as pessoas normais fazem é fugir dele!” O equívoco dessa análise linguística estreita é não levar em conta que na vida real também se corre atrás – e como! – daquilo que se quer destruir, estraçalhar, derrubar, anular, como o leão no encalço da gazela ou o lateral-direito nos calcanhares do ponta-esquerda driblador.