Como surgiu a expressão ‘arranca-rabo’?
Virgulino Ferreira, o Lampião: arrancador de rabos “Prezado Sérgio, reparei que às vezes você utiliza a expressão popular ‘arranca-rabo’ para falar de briga, discussão violenta. Meu saudoso pai também a repetia com frequência. Venho trazer então à sua apreciação, aliás sempre ponderada, algo que me intriga há muitos anos: é possível dizer como surgiu a […]

“Prezado Sérgio, reparei que às vezes você utiliza a expressão popular ‘arranca-rabo’ para falar de briga, discussão violenta. Meu saudoso pai também a repetia com frequência. Venho trazer então à sua apreciação, aliás sempre ponderada, algo que me intriga há muitos anos: é possível dizer como surgiu a referida expressão?” (Adeilson Martins)
Caro Adeilson, a origem de palavras e expressões desse tipo costuma ser nebulosa. Certeza mesmo é difícil ter, mas tomo a liberdade de repassar sua consulta ao famoso pesquisador e folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), que conta uma história interessante.
Em seu livro “Locuções tradicionais no Brasil”, Câmara Cascudo garante que a palavra composta “arranca-rabo”, considerada pelo Houaiss um brasileirismo, tem na verdade “proveniência portuguesa” e, mais ainda, se enraíza numa prática existente há “mais de três mil anos”.
Cortar, arrancar, decepar a cauda dos animais, notadamente os equinos, era troféu guerreiro de valia inestimável. Quatorze séculos antes de Cristo, o fidalgo Amenemheb, oficial do faraó Tutmés III, vangloriava-se de ter, no combate de Kadesch, no Oronte, cortado a cauda da montada do Rei inimigo.
A carga simbólica guerreira do rabo cortado teria sido reavivada na cultura brasileira, segundo Câmara Cascudo, pelos cangaceiros:
Arrancar o rabo ao cavalo de sela do chefe adversário era proeza comentada. Os velhos cangaceiros, antigos e recentes, Jesuíno Brilhante, Adolfo Meia-Noite, Antônio Silvino, Lampião, pelo Nordeste, não esqueciam de infligir ao gado das fazendas depredadas o bárbaro suplício, humilhando os proprietários.
*