Candidato: da roupa branca ao marketing político
A palavra “candidato” vem do latim candidatus, termo derivado do adjetivo candidus, que significa, segundo o Houaiss, “branco, alvo, cândido; vestido de branco; radioso, brilhante; belo, formoso; sereno; feliz, ditoso”. Embora todo esse leque de conotações positivas fosse obviamente bem-vindo, o sentido de candidatus nasceu literal: queria dizer apenas vestido de branco. Aqui estamos na […]
A palavra “candidato” vem do latim candidatus, termo derivado do adjetivo candidus, que significa, segundo o Houaiss, “branco, alvo, cândido; vestido de branco; radioso, brilhante; belo, formoso; sereno; feliz, ditoso”. Embora todo esse leque de conotações positivas fosse obviamente bem-vindo, o sentido de candidatus nasceu literal: queria dizer apenas vestido de branco.
Aqui estamos na fronteira entre a política e a moda: na Roma Antiga, os aspirantes a qualquer cargo público só se apresentavam diante dos eleitores metidos em togas imaculadamente alvas. O costume, tão arraigado que passou a nomear os próprios políticos em campanha, foi analisado da seguinte forma no início do século 18 por Rafael Bluteau, em seu “Vocabulário Português e Latino”, o primeiro grande dicionário da língua portuguesa:
Candidato – Assim chamavam antigamente em Roma àqueles que pretendiam ser eleitos às dignidades, porque estes tais vestiam de branco, como se quisessem mostrar a candideza do seu ânimo na sua pretensão, dirigida só ao bem público; ou também porque queriam dar a entender que não fundavam nos seus merecimentos, mas na bondade e virtude dos que haviam de eleger, o sucesso da pretensão.
Já começado o século 21, Márcio Bueno, autor de “A origem curiosa das palavras”, acrescentou que “o marketing político criou maneiras bem mais sofisticadas e eficientes de transmitir aos eleitores a mesma ideia que os candidatos romanos tentavam com suas singelas vestes brancas”.
Que os equivalentes contemporâneos da roupa branca são mais sofisticados, ninguém discute. Quanto a serem mais eficientes… É preciso levar em conta o drástico encurtamento na credulidade do eleitorado depois que, desde a Roma Antiga, gerações e gerações de políticos se encarregaram de sujar de todas as formas possíveis a toga simbólica do candidato.
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O texto acima foi publicado há quatro anos em minha coluna na extinta “Revista da Semana”. Como não envelheceu uma vírgula, está de volta para nos ajudar a entender o que se passa no horário eleitoral gratuito.