Caffè, kawa, cà phê, café: a história de uma palavra global
“Prezado Sr. Rodrigues, chama-me a atenção o fato de ‘café’ ser, salvo engano, uma das palavras mais difundidas internacionalmente, presente na maioria das línguas do mundo, respeitadas variações nacionais de grafia e pronúncia, por óbvio. O senhor poderia explicar o porquê deste fato e comentar o mapa etimológico do nosso apreciado café?” (João Batista Silvestre) […]

“Prezado Sr. Rodrigues, chama-me a atenção o fato de ‘café’ ser, salvo engano, uma das palavras mais difundidas internacionalmente, presente na maioria das línguas do mundo, respeitadas variações nacionais de grafia e pronúncia, por óbvio. O senhor poderia explicar o porquê deste fato e comentar o mapa etimológico do nosso apreciado café?” (João Batista Silvestre)
A ampla disseminação da palavra “café” e assemelhadas pelo planeta, do polonês kawa ao vietnamita cà phê, não tem uma explicação só, mas uma combinação delas.
Podemos começar pelo fato de a bebida ter sido derramada na Europa pelos mercadores venezianos em época relativamente tardia, no século XVII, levando consigo seu nome – em italiano, caffè. As línguas europeias modernas já estavam formadas àquela altura, e ninguém tem nome para aquilo que não conhece. Devem-se somar a isso a intensificação do comércio internacional e o imperialismo expansionista europeu, que se encarregaram do restante da difusão.
As explicações acima ainda seriam insuficientes se não fosse um dado de fundo, digamos, bioquímico: o rápido e estrondoso sucesso que a infusão dos frutos do cafeeiro encontrou nos mais variados cantos da Terra. Segundo o dicionário de Douglas Harper, o viciante coffee chegou à Inglaterra em 1650 e, 25 anos depois, já contava com mais de 3 mil pontos de venda no país.
O italiano foi o veículo principal, mas não criou a palavra. É certo que aquele caffè veneziano fora tomado de empréstimo ao turco kahvé, por sua vez oriundo do árabe qáhwa – uma palavra que, curiosamente, significava tanto “café” quanto “vinho”.
Foi do Oriente Médio (daí o nome científico de sua variedade mais popular, Coffea arabica) que o café chegou à Europa em meados do século XVI, mas a planta e seu cultivo têm origem africana. Isso dá sustentação à tese não comprovada de que em última análise, no berço da palavra, esteja o topônimo Kaffa, nome da região da Abissínia (hoje Etiópia) onde a planta é nativa e de onde sua febre, espalhando-se a partir do século IX, chegou ao Iêmen, o primeiro produtor de café em larga escala.
Como curiosidades adicionais, registrem-se dois dados: a acepção de “local público onde se consome café” foi uma contribuição do francês café à cultura globalizada da cafeína; e o início do cultivo de café no Brasil data da primeira metade do século XVIII.