Boticário: o novo, o velho, o vivo e o obsoleto
Lançado semana passada, o singelo filmete publicitário da rede O Boticário para o Dia dos Namorados (foto), que inclui – oh! – dois casais gays entre os apaixonados que trocam presentes comprados em suas lojas, provocou nos últimos dias reações de previsível escândalo na parcela mais conservadora da população, em especial os evangélicos fundamentalistas. É […]

Lançado semana passada, o singelo filmete publicitário da rede O Boticário para o Dia dos Namorados (foto), que inclui – oh! – dois casais gays entre os apaixonados que trocam presentes comprados em suas lojas, provocou nos últimos dias reações de previsível escândalo na parcela mais conservadora da população, em especial os evangélicos fundamentalistas. É por isso que “boticário”, o substantivo comum por trás da marca, é a Palavra da Semana.
Trata-se de um vocábulo curioso, um velho sinônimo do substantivo “farmacêutico” que, embora seja hoje muito menos usado do que este, permanece vivo. O mesmo não pode ser dito da palavra da qual deriva, “botica”, que, com o sentido de farmácia, é classificada pelo Houaiss como termo “obsoleto”.
Palavra surgida em meados do século XV, “botica” já deu nome a tipos variados de estabelecimento comercial, além de farmácia: armazém, armarinho, taberna e até casa de jogo. O ecletismo pode parecer estranho, mas não o era tanto numa época em que a mesma lojinha podia desempenhar todos esses papéis ao mesmo tempo.
Seja como for, “botica” – do francês boutique, que tem como antepassado remoto o grego apothéke, “despensa, depósito de víveres” – virou um termo de época em todas as acepções. Muitos de seus parentes, porém, circulam cheios de vida no português contemporâneo: também carregam o DNA de apothéke a adega, a bodega e o botequim, além, claro, da própria butique.