‘Azeite de oliva’ é uma expressão redundante?
“Caro Sérgio, a palavra azeite é derivada de azeitona? Sendo assim, a denominação azeite de oliva é uma redundância?” (Dickson Novello) Não é bem assim. Do ponto de vista etimológico, Dickson está certo ao detectar redundância em “azeite de oliva”: as palavras azeite e azeitona são intimamente relacionadas, e oliva vem a ser simplesmente um […]

“Caro Sérgio, a palavra azeite é derivada de azeitona? Sendo assim, a denominação azeite de oliva é uma redundância?” (Dickson Novello)
Não é bem assim. Do ponto de vista etimológico, Dickson está certo ao detectar redundância em “azeite de oliva”: as palavras azeite e azeitona são intimamente relacionadas, e oliva vem a ser simplesmente um sinônimo de azeitona. Seria um grande equívoco, porém, condenar a expressão por causa disso.
Ocorre que o sentido da palavra azeite, tendo nascido nos olivais, passou por uma quase imediata expansão, tornando-se um termo genérico para “óleo extraído de outros frutos, de plantas, ou de alguns animais” (Houaiss). O azeite de dendê é apenas um desses óleos, mas já bastaria para justificar a expressão “azeite de oliva”.
As palavras azeite e azeitona vieram no século XIII do árabe – respectivamente, de az-zayt e az-zaytuna, de idêntico significado. No entanto, a cultura do azeite é imemorial, perdendo-se nas brumas da pré-história. Também no latim, e antes dele no grego, os termos que designavam o fruto da oliveira e o óleo dele extraído – e por extensão diversos tipos de óleo – já deixariam Dickson em apuros para evitar redundância. O latim oleum e o grego élaion, “óleo”, são ligados a oliva e elaía, “azeitona; oliveira”.
Nada de surpreendente nisso. O verbo embarcar nasceu com o sentido estrito de “entrar num barco”, mas sua aplicação a outros meios de transporte, como trens, ônibus e aviões, torna evidentemente necessário – e nada redundante – mencionar a embarcação quando for o caso. Etimologia não é tudo.
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