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Sobre Palavras

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Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

As sutis diferenças entre ‘ficar’ e ‘tornar-se’

“Prezado Sr. Sérgio Rodrigues, sou professora de português para estrangeiros. Gostaria de saber como explicar o uso dos verbos FICAR e TORNAR-SE para indicar uma mudança de condição. Às vezes você pode usar um ou outro, às vezes não pode. Há alguma regra? Muito obrigada.” (Isa Rezende) A pergunta de Isa é tão boa quanto […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 02h41 - Publicado em 10 nov 2014, 12h35

“Prezado Sr. Sérgio Rodrigues, sou professora de português para estrangeiros. Gostaria de saber como explicar o uso dos verbos FICAR e TORNAR-SE para indicar uma mudança de condição. Às vezes você pode usar um ou outro, às vezes não pode. Há alguma regra? Muito obrigada.” (Isa Rezende)

A pergunta de Isa é tão boa quanto difícil. Não há propriamente uma regra que resolva todas as dúvidas que o uso de “ficar” e “tornar-se” pode apresentar a ouvidos não habituados ao português – isto é, naqueles casos em que esses verbos assumem, entre seus muitos sentidos, o de indicar uma transformação.

“Fiquei irritado”, dizemos. “Tornei-me um ébrio”, diz a canção. Por que será que “Tornei-me irritado” e “Fiquei um ébrio”, que poderiam parecer construções perfeitamente lógicas a um estrangeiro, soam erradas?

Se não existe regrinha simples, há diretrizes gerais que podem ser úteis. “Tornar-se” costuma se referir a uma mudança profunda, geralmente gradual e irreversível – ou de difícil reversão. Por indicar uma transformação substancial, é um verbo que vem tipicamente seguido de substantivo. Seu uso é sempre recomendado nas mudanças de estado que demandam tempo ou esforço: “Depois de muito batalhar, o filho do lavrador tornou-se médico” (e não “ficou médico”).

“Ficar”, por seu lado, é um verbo mais leve que dá conta de variações de estado instantâneas, temporárias – mudanças adjetivas na maioria das vezes. Um homem fica bêbado (naquele dia, naquele momento), mas torna-se um bêbado (todos os dias, de forma continuada e talvez perpétua).

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Para complicar um pouco o problema, “ficar” tem espectro semântico mais amplo do que “tornar-se”. Há casos – não todos – em que a transformação substancial indicada por “tornar-se” admite também o uso de “ficar”: “Minha filha está se tornando (ficando) mocinha”, “A poluição química foi tanta que a água do rio tornou-se (ficou) vermelha”.

O caminho inverso, porém, não funciona: transformações instantâneas, temporárias e fortuitas não se dão bem com “tornar-se”. Uma construção como “Fiquei gripado” soaria absurda se fosse “Tornei-me gripado”. O mesmo ocorreria se tentássemos transformar “Fico pasmo com tanto radicalismo” em “Torno-me pasmo…”.

Para os alunos de Isa que falarem inglês, pode ser elucidativo – ainda que não infalível – traçar um paralelo com a diferença existente entre os verbos get e become (ou turn into): “I got angry”, “He got drunk”; mas “She became (turned into) a doctor”, “He became (turned into) a drunkard”.

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