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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

As argolas de Zanetti são uma herança árabe

As argolas – que, enquanto ninguém prestava muita atenção, transformaram Arthur Zanetti no novo herói olímpico brasileiro – devem seu nome em português a um vocábulo árabe, al-gulla, “aro grosso”. A data que consta na certidão de nascimento da palavra lusófona é 1364, enquanto o espanhol argolla é ainda mais antigo, segundo o filólogo catalão […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 08h11 - Publicado em 7 ago 2012, 15h14

As argolas – que, enquanto ninguém prestava muita atenção, transformaram Arthur Zanetti no novo herói olímpico brasileiro – devem seu nome em português a um vocábulo árabe, al-gulla, “aro grosso”. A data que consta na certidão de nascimento da palavra lusófona é 1364, enquanto o espanhol argolla é ainda mais antigo, segundo o filólogo catalão Joan Corominas: inicialmente como algolla, o termo já era usado em 1280.

Isso torna a argola parente de uma série de vocábulos derivados de palavras iniciadas pelo artigo árabe al – como armazém, azeite, algodão, alambique etc. – que nos ficaram de herança da ocupação moura da Península Ibérica, entre os séculos 8 e 15. Observa o dicionário Houaiss que, “das mais de 700 palavras portuguesas oriundas do árabe, cerca de 600 são das origens da língua até o século XVI, e um número considerável começa por esse artigo, que perdeu tal caráter totalmente na nossa língua”.

Como no caso de armazém, oriundo de al-mahazan, houve em argola uma alteração fonética de al para ar. No primeiro caso, especula-se que isso tenha sido provocado pela influência da palavra arma, explicada por uma acepção primitiva (“depósito de armamentos”). De todo modo, flutuações desse tipo são comuns na história do português.

Tudo indica ser inteiramente fortuita a semelhança sonora entre a argola e a gola, do latim gula (esôfago, garganta), ramo etimológico que tem numerosos descendentes em português: gula, goela, engolir, degolar etc. O curioso é que os campos semânticos desses dois termos sempre estiveram próximos, por meio da ideia de colar, e chegaram a ponto de se confundir quando surgiu a golilha, aro de ferro com que se prendiam escravos ou criminosos pelo pescoço no pelourinho. Um dos sinônimos de golilha, palavra derivada do latim gula, era justamente argola.

Restritas às competições masculinas, devido à exigência extrema de força, as argolas não pertenciam ao conjunto de aparelhos sistematizado no início do século 19 pelo alemão Friedrich Ludwig Jahn, que costuma ser considerado o pai da ginástica artística. Foram introduzidas poucas décadas depois e estão presentes nos Jogos Olímpicos da era moderna desde a primeira edição, em 1896.

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