Algumas (poucas) palavras sobre o lacônico
Na etimologia, chutes raramente acertam o alvo. Houve um tempo em que eu teria apostado – não que pensasse muito nisso, mas teria apostado mesmo assim – que o adjetivo lacônico, “conciso, breve, de poucas palavras”, tinha alguma relação profunda com o substantivo lacuna, “falha, falta, vazio”. Teria perdido a aposta. Se a lacuna veio […]
Na etimologia, chutes raramente acertam o alvo. Houve um tempo em que eu teria apostado – não que pensasse muito nisso, mas teria apostado mesmo assim – que o adjetivo lacônico, “conciso, breve, de poucas palavras”, tinha alguma relação profunda com o substantivo lacuna, “falha, falta, vazio”.
Teria perdido a aposta. Se a lacuna veio do latim lacuna, “fosso, poça, lagoa, buraco, barranco”, o que faz dela uma palavra da família do lago e da lagoa, o lacônico não tem nada a ver com isso.
Laconicus, adaptação do grego lakonikós, era como os latinos chamavam os nativos da Lacônia ou Lacedemônia, região da Grécia cuja capital era Esparta. Os lacedemônios eram famosos pela “predileção que mostravam pela fala concisa”, segundo o filólogo Joan Corominas.
Vale lembrar que a cultura dos espartanos era militarista, com ênfase na disciplina e na aptidão física. O adjetivo espartano é empregado ainda hoje em português como sinônimo de “austero”. Gente de poucas palavras mesmo, sobretudo se comparada à turma de Atenas, mais inclinada ao cultivo das artes e da retórica.