A volta do incluso: o que faltou incluir
Há pouco mais de dois meses tratei aqui, no post Todo incluso é incluído, mas nem todo incluído é incluso, do caso de incluso, palavrinha que evito usar, por me parecer meio metida a besta, mas de sucesso crescente no vocabulário dos brasileiros. O que eu tinha de fundamental a dizer sobre ela está naquele […]
Há pouco mais de dois meses tratei aqui, no post Todo incluso é incluído, mas nem todo incluído é incluso, do caso de incluso, palavrinha que evito usar, por me parecer meio metida a besta, mas de sucesso crescente no vocabulário dos brasileiros. O que eu tinha de fundamental a dizer sobre ela está naquele artigo, que recomendo a quem não o leu. Reabro o caso porque recebi duas novas consultas, que vão expostas e comentadas abaixo.
“Prezado Sérgio, tenho aprendido muito com seus preciosos ensinamentos. Mas gostaria de fazer um questionamento acerca do uso do incluso ou incluído, que foi tão bem explicado por você. Ontem, fui matricular minha filha num curso e perguntei se o lanche estava incluído. A professora afirmou que o lanche estava incluso, num tom mais forte, como que me corrigindo. Gostaria de saber se, de fato, todo incluso é incluído, mesmo que esteja exercendo a função de adjetivo. Posso afirmar que o lanche está incluído (forma que sempre estaria correta) ou tenho que afirmar que está incluso, tendo em vista que, no presente exemplo, ele atua como adjetivo? Desde já agradeço a oportunidade e aproveito para expressar minha admiração.” (Sandra Aguiar)
A professora da filha de Sandra está desinformada e deveria ter mais cuidado antes de corrigir os outros. A forma “incluído” não apenas está correta em todas essas construções, tanto no papel de adjetivo quanto no de particípio – papéis que se confundem, aliás –, como é também a forma que se pode chamar de preferencial, aquela que tem atrás de si uma longa tradição de bons autores. Enquanto isso, incluso é um vocábulo emergente na linguagem comum, uma escolha que a meu ver ainda não perdeu certo visgo bacharelesco. Isso não quer dizer que seja um erro – a menos, aí sim, que venha empregado na voz ativa, como em “O garçom já tinha incluso a gorjeta na nota”. Felizmente, isso é algo que ainda se vê pouco por aí.
“Infelizmente fiquei com uma tremenda dor de cabeça de dúvida: lendo outros sites, lá dizem que o verbo ‘incluir’ não é um verbo abundante, e incluso é usado somente como um adjetivo e não nos verbos compostos ou na voz passiva. Achei que tinha chegado ao final da dúvida, mas um site contradiz o outro (ou enriquece). Desculpa e agradeço.” (Ise Severo)
Não sei a que sites Ise se refere, mas reafirmo que incluir é um verbo abundante e incluso, seu particípio irregular. O Houaiss os trata assim, entre muitos outros estudiosos, e não acredito que haja outra forma razoável de tratá-los. O fato de incluso ser mais usado como adjetivo não é suficiente para alterar tal fato, mesmo porque, como foi dito acima, o particípio que é empregado como adjetivo se confunde com aquele que se usa em construções na voz passiva, com os verbos ser e estar. Convém reiterar que o único cuidado que é preciso ter é o de não empregar incluso em construções ativas – a mesma recomendação que vale para muitos outros particípios irregulares, como isento, aceso e expulso.