A pronúncia de ‘subsídio’: erro hoje, regra amanhã?
“Caro Sérgio Rodrigues, por que raríssimas pessoas pronunciam a palavra subsídio com ‘s’? A maioria diz com ‘z’, o que não é o correto. Dói ouvir de um magistrado falar ‘subzídio’.” (João Augusto Palma) A resposta tradicional à dúvida de João Augusto pode ser encontrada em dicionários e gramáticas normativas: a ortoépia (palavrão que quer […]
“Caro Sérgio Rodrigues, por que raríssimas pessoas pronunciam a palavra subsídio com ‘s’? A maioria diz com ‘z’, o que não é o correto. Dói ouvir de um magistrado falar ‘subzídio’.” (João Augusto Palma)
A resposta tradicional à dúvida de João Augusto pode ser encontrada em dicionários e gramáticas normativas: a ortoépia (palavrão que quer dizer apenas pronúncia correta) de “subsídio” é com o som de s e não de z, como em “subsíndico”, “subsolo” etc. Isso porque a regra geral, em nossa língua, assim determina quando a letra S vem depois de consoante. Ou seja: em situações formais, poupa aborrecimento pronunciar “subSídio”.
Ocorre que, numa visão histórica das línguas, o desvio (ou erro) generalizado de hoje costuma ser a regra de amanhã. E o fato é que grande parte – provavelmente a maioria – dos brasileiros repudia a pronúncia recomendada e vai de “subZídio” sem pensar duas vezes. Pixotada coletiva, mais um sinal da precariedade de nosso sistema educacional? Quem optar por pensar assim não terá escassez de argumentos. No entanto, também é possível ver nessa insistência uma vocação prosódica, o sinal de uma nova ortoépia em formação.
Em defesa desta última linha de raciocínio, observe-se que a regra geral mencionada acima comporta várias exceções. Cito duas. “Obséquio” é pronunciado “obZéquio” há tanto tempo que já ganhou o beneplácito dos sábios. E “subsistência” segue velozmente em seu encalço: embora os tradicionalistas ainda insistam na pronúncia “subSistência”, não conheço uma única pessoa que lhes dê ouvidos. De “magistrados” (como diz João Augusto) a analfabetos, dizemos todos “subZistência” – e fim de papo.
Se “subsídio” fosse um caso isolado, seria mais fácil sustentar a tese da ignorância coletiva. Como não é, prefiro o argumento de uma vocação prosódica brasileira que ganhará o aval dos eruditos mais cedo ou mais tarde.
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