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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

‘A primeira vez que’ ou ‘a primeira vez em que’?

“Olá, Sérgio. Gostaria de saber qual é a sua opinião sobre o uso da preposição em expressões temporais. ‘Na primeira vez (em) que fiz isso, deu tudo certo.’ É com ou sem o ‘em’? Sei que há quem diga que em expressão de tempo pode-se ou não usar essa preposição. Gostaria de saber o que […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 07h39 - Publicado em 11 out 2012, 11h46

“Olá, Sérgio. Gostaria de saber qual é a sua opinião sobre o uso da preposição em expressões temporais. ‘Na primeira vez (em) que fiz isso, deu tudo certo.’ É com ou sem o ‘em’? Sei que há quem diga que em expressão de tempo pode-se ou não usar essa preposição. Gostaria de saber o que você acha. Ainda sobre essa preposição: continuo com dúvida quando a expressão de tempo é o sujeito da oração. Ex: ‘A primeira vez (em) que fui a São Paulo foi ótima’. Já vi quem dissesse que é facultativo, mas já vi também quem dissesse que não, não é para usar a preposição quando a expressão de tempo faz as vezes de sujeito. Eu, que sou um curioso com a língua, me dou ao direito de discordar. Para mim soa bem melhor com a preposição. O filme se chama ‘O dia em que a Terra parou’, e não ‘O dia que a Terra parou’.” (Thiago Camelo)

O raciocínio de Thiago está correto na maioria dos casos. Embora a língua falada costume abrir mão dela sem dor na consciência, a preposição – em, de, por etc. – é considerada indispensável na norma culta escrita como acompanhante do pronome relativo “que” em construções como “o dia em que nasci”, “a crise por que passamos” e “o assunto de que lhe falei”. Tal módulo desempenhar ou não papel de sujeito não faz diferença. Deve-se escrever: “O sol brilhava no dia em que a conheci”. E também: “O dia em que a conheci estava ensolarado”.

Existe, contudo, um elemento capaz de mudar as regras do jogo: a palavra “vez”. Ela é suficiente para fazer com que, embora esteja correto em linhas gerais, Thiago erre na opção de usar a preposição “em” nas frases que apresenta como exemplo. Na verdade, não se trata exatamente de erro gramatical, uma vez que é possível justificar tal opção com o mesmo raciocínio dos casos acima. No entanto, não é isso que recomenda a tradição dos melhores autores.

Deve-se dar preferência às seguintes construções: “Na (ou apenas a) primeira vez que fiz isso, deu tudo certo” e “A primeira vez que fui a São Paulo foi ótima”. Sem preposição. É o que vemos Eça de Queirós fazer em “O primo Basílio”: “Era a primeira vez que Jorge se separava de Luísa”. E Machado de Assis, no “Memorial de Aires”: “A última vez que me escreveu… não lhe esqueceu dizer que agradecia as lembranças mandadas”.

Segundo o gramático Domingos Paschoal Cegalla, isso se dá porque estamos falando de “expressões adverbiais fixas” – a primeira vez que, a última vez que, toda vez que, cada vez que – nas quais, segundo ele, a palavra “que” deixa de ser interpretada como pronome e passa a ser “geralmente considerada conjunção”. Seja como for, Evanildo Bechara também lamenta o uso da preposição “em” em frases desse tipo: “Tem-se estendido sem razão nem tradição no idioma o emprego de em que em construções onde só deve figurar o que, como todas as vezes em que”.

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