Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

A pane, a pena e o pano

Pane quer dizer, segundo o Houaiss, “falha no funcionamento do motor de automóvel, avião etc., que geralmente provoca uma parada”. Sem esquecer, claro, seu uso figurado informal como “esquecimento momentâneo; branco, claro”. A definição do dicionário deixa de fora outra acepção de largo emprego: travamento de um sistema em que as engrenagens e correias de […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 07h34 - Publicado em 23 out 2012, 11h52

embarca%c3%a7%c3%a3oPane quer dizer, segundo o Houaiss, “falha no funcionamento do motor de automóvel, avião etc., que geralmente provoca uma parada”. Sem esquecer, claro, seu uso figurado informal como “esquecimento momentâneo; branco, claro”. A definição do dicionário deixa de fora outra acepção de largo emprego: travamento de um sistema em que as engrenagens e correias de transmissão sejam metafóricas e não literais, como no caso das panes que volta e meia acometem o tráfego aéreo brasileiro.

A origem da palavra, porém, não tem nada a ver com motor. Pane é um substantivo feminino que o português começou a usar no século 20, segundo o etimologista Antonio Geraldo da Cunha, depois de importá-lo de uma expressão francesa do vocabulário náutico. Panne era a princípio o nome da verga (peça transversal) mais longa do mastro de um navio, da qual pendia a vela e que se afinava nas extremidades como uma pena. É justamente do latim pinna, “pluma”, que deriva a palavra, de acordo com o Trésor de la Langue Française.

Até aí, uma coisa não parece ter nada a ver com a outra. O sentido de parada surgiu em francês na virada entre dos século 16 e 17, inicialmente na forma da expressão mettre en panne, “por em pane”, que significava dispor essa verga – e, com ela, as velas – de tal forma que o movimento da embarcação cessasse.

Depois disso, em contraste com tal sentido estático, a palavra não se deteve mais em sua expansão. Há registro da expressão en panne usada em 1759 com o sentido militar de “impossibilitado de agir, de mãos atadas”. Em 1879, qualquer “interrupção no funcionamento de um mecanismo” podia ser nomeada assim. E em 1903 panne designava a “parada acidental de um veículo automobilístico ou uma bicicleta”. Foi com essa roupagem que a importamos.

Uma curiosidade adicional é o contraste entre a expressão náutica francesa e a nossa “a todo pano”, que tem o sentido literal oposto de “com as velas enfunadas”, isto é, “a toda velocidade”. Esse desencontro se dá porque, embora as duas palavras soem parecidas e estejam no mesmo campo semântico de velas e mastros, não têm nenhum parentesco etimológico. Se a panne francesa é filha de um termo latino que quer dizer pena, nosso pano derivou de pannus e é, nesse caso, um simples sinônimo de vela.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.