A palavra ‘escambau’ e o escambau
No capítulo das gírias antigas que conservam certo frescor, em que “bacana” brilha intensamente, tenho um carinho especial pelo brasileirismo “escambau”. Muitos anos atrás, escrevi sobre ele e sua origem envolta em bruma. Fiquei surpreso com o número de pessoas que reagiu mal, como se fosse perfeitamente óbvio que “escambau” deriva de “escambo”, isto é, […]
No capítulo das gírias antigas que conservam certo frescor, em que “bacana” brilha intensamente, tenho um carinho especial pelo brasileirismo “escambau”.
Muitos anos atrás, escrevi sobre ele e sua origem envolta em bruma. Fiquei surpreso com o número de pessoas que reagiu mal, como se fosse perfeitamente óbvio que “escambau” deriva de “escambo”, isto é, “permuta, troca de mercadorias sem uso de moeda”.
Embora não se possa dizer com segurança de onde veio “escambau”, é certo que de “escambo” não foi. Para que uma tese etimológica fique de pé, ela precisa ser coerente do ponto de vista morfológico (formação da palavra) e também semântico (sentido da palavra). É neste último aspecto que “escambo” se desmoraliza.
“Escambau” – que ganhou seus primeiros registros escritos na década de 50 do século passado, segundo o Houaiss – tem duas acepções básicas. A primeira e mais empregada é a de “mais um monte de coisas”, um “etc.” informal e enfático: “Saiu de férias levando barraca de camping, fogareiro e o escambau”.
A segunda acepção faz de “escambau” uma espécie de interjeição de negação, substituindo palavrões em frases como esta: “Vítima da sociedade, o Tenório? Vítima o escambau!”.
A tese mais plausível deriva a palavra de “cambada” (porção de coisas, cambulhada), por um caminho que o Houaiss resume assim: “alteração de sufixo para -al, ‘grande quantidade’, e depois grafado com -u, seguindo a pronúncia do -l final, predominante no Brasil”.
Portanto, antes de “o escambau” teria existido, pelo menos como elo perdido lógico, “os cambal”.