A palavra ‘negro’ pode ter nascido no escuro da noite
“Caro Sérgio Rodrigues, qual a origem etimológica da palavra negro?” (José Maurício da Silva) A palavra negro nos chegou do adjetivo nigrum, termo do latim clássico que significava “negro” em diversas das acepções que herdamos, desde a óbvia “que tem a pele escura” até as figuradas, como “sombrio” e “fúnebre”. No século XIII, negro já […]

“Caro Sérgio Rodrigues, qual a origem etimológica da palavra negro?” (José Maurício da Silva)
A palavra negro nos chegou do adjetivo nigrum, termo do latim clássico que significava “negro” em diversas das acepções que herdamos, desde a óbvia “que tem a pele escura” até as figuradas, como “sombrio” e “fúnebre”. No século XIII, negro já era usado em português como adjetivo; o substantivo, “a cor do piche”, surgiu dois séculos depois.
Se parece sensato descartar qualquer intenção de associação moral entre as pessoas de pele negra e as acepções mais sombrias da palavra, relação em que parece haver apenas uma coincidência ligada à ideia de escuridão, a fonte onde o latim foi buscar nigrum é incerta.
No verbete negro, que o inglês importou do português ou do espanhol no século XVI, o dicionário etimológico de Douglas Harper levanta a possibilidade de que a palavra latina seja derivada da raiz indo-europeia nekwt, “noite”, a mesma que deu em night.
O que parece certo é que nigrum não tinha em latim nenhuma relação com a raiz necro, “morto, cadáver”, esta uma importação do grego nekrós. Em português, tais elementos chegaram a se confundir mais tarde: necromancia, “arte de prever o futuro pelo contato com os mortos”, por exemplo, ganhou a variação “nigromancia” por influência de nigrum.
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