A moral, o moral, na moral
“Qual a diferença entre ‘a moral’ e ‘o moral’?” (Ivo Uji) A palavra moral, que o português herdou do latim moralis, não sofre variação de gênero quando é adjetivo (“os preceitos morais”, “as questões morais”), mas como substantivo pode ser um vocábulo masculino ou feminino. Nesse caso, como se sabe, o sentido se altera. O […]
“Qual a diferença entre ‘a moral’ e ‘o moral’?” (Ivo Uji)
A palavra moral, que o português herdou do latim moralis, não sofre variação de gênero quando é adjetivo (“os preceitos morais”, “as questões morais”), mas como substantivo pode ser um vocábulo masculino ou feminino.
Nesse caso, como se sabe, o sentido se altera. O moral é um sinônimo de estado de ânimo, disposição, e em alguns casos de bravura: “O moral da tropa está elevado”.
A moral tem carga semântica mais ampla, inclusive a de ramo da filosofia que investiga questões éticas, mas seus significados tendem a girar em torno de uma acepção central que o Houaiss expõe assim: “conjunto de valores como a honestidade, a bondade, a virtude etc., considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens”. É nesse sentido que se fala em “a moral cristã”, por exemplo.
O latim moralis nasceu como adjetivo derivado do substantivo mos, moris, “costume, comportamento”. Já no idioma de origem a palavra logo era empregada também como substantivo, com o significado de “filosofia moral”. Na verdade, o que houve foi uma elipse, a supressão de um termo (“filosofia”) e a correspondente substantivação do adjetivo (“moral”) que lhe fazia companhia. Algo rotineiro na história das palavras.
O mesmo processo explica que “moral” tenha dado em dois substantivos de gêneros e sentidos diversos em português. No caso do masculino, a palavra tomou provavelmente o lugar de uma expressão como “estado moral” – em que este vocábulo é entendido como oposto a “físico”, ou seja, relativo a qualidades anímicas, psíquicas, comportamentais. No caso feminino, a carga semântica permaneceu mais próxima da raiz latina, a de “filosofia moral”.
É curioso que a locução brasileira popular “na moral” (de modo firme, com autoridade), provavelmente derivada da velha expressão “botar moral” (impor-se), empregue a palavra no feminino, embora seu sentido seja mais próximo de “disposição, bravura” do que de “conjunto de valores”.
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