A manga, a manga e a mangueira: coincidência?
“Sempre me intrigaram os múltiplos sentidos da palavra manga em português. Existe relação entre a manga fruta, a manga da camisa e a mangueira d’água? Se existe, como aconteceu de terem sentidos tão distintos? Ou é apenas uma (ou duas) coincidência(s)? Desde já, obrigado.” (José Raimundo Gomes) A relação secreta que José Raimundo intui existe, […]
“Sempre me intrigaram os múltiplos sentidos da palavra manga em português. Existe relação entre a manga fruta, a manga da camisa e a mangueira d’água? Se existe, como aconteceu de terem sentidos tão distintos? Ou é apenas uma (ou duas) coincidência(s)? Desde já, obrigado.” (José Raimundo Gomes)
A relação secreta que José Raimundo intui existe, sim, entre a manga (de camisa) e a mangueira d’água. A manga, fruto da mangueira, não tem nada a ver com isso.
A manga da camisa veio do latim manica – um derivado de manus, “mão” – há muito tempo, mais exatamente no século XIII. Além de designar uma parte do vestuário, logo ganhou, por uma extensão metafórica bastante compreensível, a acepção de “objeto tubular que envolve qualquer coisa para proteger, isolar” (Houaiss).
A mangueira que conduz líquidos ou gases tem origem idêntica. Devido ao mesmo processo associativo exposto no parágrafo acima, também era (e ainda pode ser) chamada de manga, antes de – em meados do século XIX, segundo a datação do mesmo dicionário – ganhar no próprio português o sufixo -eira e assumir a forma pela qual o objeto que designa passaria a ser preferencialmente conhecido.
A história da fruta é bem diferente. Apareceu pela primeira vez em português em 1558 e era um decalque direto do malaio manga. Nativo da Ásia, o fruto da mangueira foi apresentado ao paladar ocidental pelos navegadores portugueses – e a palavra veio junto.
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