A lua é dos amantes
– Olha a lua, minha linda. – Maravilhosa, querido. Brilhando só para nós. – Era o que eu ia dizer. Me serve mais vinho? – Claro. Sem a lua cheia, eu nem ia conseguir enxergar a garrafa. – Obrigado. Mas eu não sou louco. Se a noite não estivesse enluarada, eu nem tinha trazido você […]
– Olha a lua, minha linda.
– Maravilhosa, querido. Brilhando só para nós.
– Era o que eu ia dizer. Me serve mais vinho?
– Claro. Sem a lua cheia, eu nem ia conseguir enxergar a garrafa.
– Obrigado. Mas eu não sou louco. Se a noite não estivesse enluarada, eu nem tinha trazido você pra essa praia deserta.
– Querido.
– Só que a lua não está cheia, linda.
– Claro que está.
– Quase. Amanhã vai ser cheia. Ou então foi ontem. Esfriando, né?
– Reginaldo, isso aí no céu é uma lua cheia.
– A gente chama assim, mas tecnicamente não é. Repara melhor.
– Não tem o que reparar, Reginaldo. Nunca existiu lua mais cheia do que essa, sabe por quê? Porque não tem para onde encher mais. Ficou redondinha assim, é lua cheia. Cheia quer dizer cheia mesmo. Completa, entendeu?
– Você acha?
– Não é questão de achar.
– Então tá, é lua cheia. Por que você não bota o agasalho?
– Não quero saber de agasalho nenhum, Reginaldo. Por que você faz isso?
– Isso o quê, meu Deus?
– Isso. Esse tom aí que você usa. “Então tá, é lua cheia.” Como se eu fosse maluca.
– Bom, assim você parece maluca mesmo.
– Ah, é? Então chega. Me leva pra casa.
– Mas o que é isso? Que briga mais boba!
– Ou me leva para casa ou pede desculpa.
– Tudo bem, desculpa. Vem cá, linda. Nem acredito que a gente ia desperdiçar essa praia, esse vinho, essa lua…
– Cheia.
– Certo. Essa lua cheia.
– …
– …
– Me leva pra casa, Reginaldo.
– Só se for agora.