A língua do zigue-zague e o zigue-zague da língua
O zigue-zague que as bolsas de valores descreveram ao longo da semana é uma palavra que, ortograficamente, tem andado na contramão da história: no Brasil e em Portugal era “ziguezague”, sem hífen e sem confusão, até a última reforma ortográfica, e por algum motivo obscuro retrocedeu. Paciência. A língua também tem seus zigue-zagues. Trata-se de […]
O zigue-zague que as bolsas de valores descreveram ao longo da semana é uma palavra que, ortograficamente, tem andado na contramão da história: no Brasil e em Portugal era “ziguezague”, sem hífen e sem confusão, até a última reforma ortográfica, e por algum motivo obscuro retrocedeu. Paciência. A língua também tem seus zigue-zagues.
Trata-se de um substantivo tão eloqüente quanto idoso, embora mantenha um certo ar jovem. Nasceu na língua francesa no finalzinho do século 17 como ziczac, para designar certos objetos compostos de losangos articulados que podiam ser abertos e fechados, em movimentos pantográficos. A palavra surgiu de uma onomatopeia, ou seja, imitação ou sugestão do som de abrir e fechar. Poucas décadas depois já era usada metaforicamente para descrever, bem, para descrever o movimento que descreve.
Que movimento? Ora, o zigue-zague! Como dizer isso de outra forma com a mesma concisão? Impossível, e talvez esteja aí a explicação para a juventude eterna da palavra. Seu primeiro registro em português é de 1836, poucos anos antes de, em francês, Honoré de Balzac lhe dar sua principal abonação literária em “A prima Bette”, romance de A comédia humana: “Chardin tentou desenhar ziguezagues no ar com o dedo indicador da mão direita”.
Quatro décadas depois de cruzar o Atlântico a novidade francesa dava nome a uma das revistas semanais ilustradas da capital do Império, “O Zigue-Zague” (com hífen, claro), que dividia o mercado com a “Revista Ilustrada” (na qual colaborava Machado de Assis), “O Besouro”, “A Lanterna” e “O Mequetrefe”. Estava na moda. E, pensando bem, daí nunca sairia, com ou sem hífen.