A hegemonia do inglês está com os dias contados?
Um livro recém-lançado no mercado americano, The last lingua franca: English until the return of Babel, de Nicholas Ostler, defende a tese de que a hegemonia do inglês como idioma internacional está com os dias contados, ameaçada pelo aperfeiçoamento dos tradutores automáticos disponíveis online. Estaríamos, segundo o autor, muito próximos de um momento histórico mágico […]
Um livro recém-lançado no mercado americano, The last lingua franca: English until the return of Babel, de Nicholas Ostler, defende a tese de que a hegemonia do inglês como idioma internacional está com os dias contados, ameaçada pelo aperfeiçoamento dos tradutores automáticos disponíveis online. Estaríamos, segundo o autor, muito próximos de um momento histórico mágico em que o retorno a um estado babélico, favorável à diversidade linguística, não trará consigo o desagradável efeito colateral da incompreensão entre os povos.
Será que Ostler tem razão? Futurologia é uma disciplina traiçoeira, como se sabe. Por um lado, não se pode negar que ele está certo ao apontar o caráter finito do domínio internacional exercido por outros idiomas no passado: se o grego, o sânscrito e o latim tiveram negado o acesso à eternidade que um dia lhes pareceu ao alcance da mão, por que seria diferente com o inglês? (É significativo que um raciocínio semelhante comece a ser encarado pelos economistas diante dos sinais de decadência do dólar, a moeda franca do nosso tempo.)
Ao mesmo tempo, a ênfase posta pelo autor na qualidade das ferramentas de tradução automática parece, por enquanto, excessiva. Sim, o Google Translate evoluiu cinquenta anos em cinco, mas ainda lhe resta no mínimo outro século de aprimoramento antes que possa ser considerado realmente confiável. De todo modo, é duvidoso que esse tipo de recurso elimine a necessidade humana de comunicação imediata que conduz à eleição mais ou menos espontânea de uma língua franca.
Restaria, ainda assim, a questão de qual será ela dentro de algumas décadas. Argumenta Ostler que o acachapante domínio anglófono na internet de hoje pode nos deixar cegos a uma tendência que é de diversificação, não de concentração. Lembra ele que as línguas que mais se expandiram na rede internacional de computadores nos últimos dez anos foram, pela ordem, árabe, chinês, português, espanhol e francês. Isso mesmo: com o português à frente do espanhol, um efeito da inclusão digital brasileira. Uma boa notícia para “a última flor do Lácio, inculta e bela”, que estaria prestes a resolver o famoso oximoro de Olavo Bilac e se tornar mais esplendor que sepultura?