A gravata no pescoço do croata
As histórias de certas palavras são tão boas que parecem aquelas lendas etimológicas propagadas por internautas desavisados e autores de livrinhos desatentos à checagem de informações. Acontece que, felizmente, nem toda etimologia cheia de aventura e colorido é falsa. A origem da palavra gravata é uma dessas que combinam diversão e fundamento. Quem diria que […]

As histórias de certas palavras são tão boas que parecem aquelas lendas etimológicas propagadas por internautas desavisados e autores de livrinhos desatentos à checagem de informações. Acontece que, felizmente, nem toda etimologia cheia de aventura e colorido é falsa. A origem da palavra gravata é uma dessas que combinam diversão e fundamento. Quem diria que é exatamente a mesma de croata, “natural da Croácia”? Pois é.
Nos séculos XVII e XVIII, ficaram famosos os soldados croatas de cavalaria que se punham a serviço, como mercenários, de diversas nações europeias. Na França, compunham um regimento chamado Royal Cravate, que se destacou na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). A palavra cravate vinha do servo-croata hrvat – depois de uma tabelinha com o termo dialetal alemão krawat – e a princípio queria dizer simplesmente “croata”.
No entanto, como na França tudo parece acabar em moda, um ano após o fim da guerra já se registrava, segundo o Trésor de la Langue Française, uma expansão semântica da palavra cravate para nomear também a vistosa tira de tecido que os cavaleiros croatas usavam ao redor do pescoço. A gravata logo esqueceria sua origem militar e guerreira para fazer sucesso em salões urbanos ao redor do mundo.
O termo francês deu origem, entre outros, ao italiano cravatta e ao português gravata, palavra que teve seu primeiro registro em 1707 – inicialmente com a cômica grafia garovata, segundo o Houaiss. Tem a mesma matriz o inglês cravat, palavra que conserva em parte o sentido antigo de lenço amarrado no pescoço, deixando para necktie o de gravata propriamente dita.
Registre-se como curiosidade adicional que, no português brasileiro, a gravata deu um jeito de voltar em certa medida ao campo semântico violento em que nasceu, batizando um golpe de luta livre e, na fala regional gaúcha, a degola.