A feiura das palavras
– Para você qual é a palavra mais feia da língua portuguesa? Vê lá, não estou falando de palavrões. – Não sei, são tantas. Obstante? – Eu disse a mais feia, não uma feinha qualquer. Obstante está longe de ser feia o bastante. – Isso depende. Feiura é um critério subjetivo. Para mim obstante é […]
– Para você qual é a palavra mais feia da língua portuguesa? Vê lá, não estou falando de palavrões.
– Não sei, são tantas. Obstante?
– Eu disse a mais feia, não uma feinha qualquer. Obstante está longe de ser feia o bastante.
– Isso depende. Feiura é um critério subjetivo. Para mim obstante é o fim da picada, mas claro que tem outras. Escrófula. Pus. Macambúzio. Desconstrucionismo. Bulboso. Craca. Nauseabundo.
– Tudo fichinha. Nenhuma delas é páreo para glomerulonefrose.
– Glomero o quê?
– Glomerulonefrose.
– Essa você acabou de inventar.
– Você acha? Se eu acabei de inventar, como ela aparece aqui no dicionário? “Degeneração dos glomérulos renais.”
– Ah, mas assim é fácil. Termo científico não vale.
– Vale tudo que estiver no dicionário.
– Para mim só valem palavras que as pessoas usam. Ninguém entra no bar e fala: “Fulano, bota aí uma pinga que hoje eu estou com uma tremenda glomero-sei-lá-o-quê”.
– Se está no dicionário vale, ué, tem que valer.
– Depois, quem disse que essa palavra é feia? Difícil tudo bem, mas feia? Vejo uma palavra comprida e altiva, talvez meio nariguda e com certeza desajeitada, mas tudo parte do charme. Parece uma top model italiana.
– Você é maluco.
– Uma miss Universo se formos comparar, por exemplo, com jaburus de verdade como oxiúro, avúnculo, diarreia, pelancudo…
– Diarreia me deu uma ideia. Que tal cagaita, fruto da cagaiteira?
– Ah! Agora você está começando a brincar!