A fama e a fama de Leopoldo Pisanello
Roberto Benigni como Leopoldo Pisanello A fama pela fama é como a violência pela violência e o exercício físico pelo exercício físico: não é novidade, mas nunca na história da espécie teve uma legião tão grande de adeptos. As colunas sociais sempre foram cheias de gente famosa por ser famosa, mas também não foram elas […]

A fama pela fama é como a violência pela violência e o exercício físico pelo exercício físico: não é novidade, mas nunca na história da espécie teve uma legião tão grande de adeptos. As colunas sociais sempre foram cheias de gente famosa por ser famosa, mas também não foram elas as inventoras do renome desprovido de conteúdo. Essa história é bem antiga.
Muitos séculos antes de Cristo, o poeta Homero, que talvez por ser cego enxergava longe, disse: “Como é vã a fama sem o mérito!”. Embora falasse grego, a mensagem é clara: a mesma que ressoa em tom de comédia rasgada no personagem Leopoldo Pisanello, interpretado por Roberto Benigni no último filme de Woody Allen, “Para Roma com amor”.
Quem ainda não viu o filme não terá seu prazer estragado se souber que Pisanello é um cidadão romano comum, sem charme nem ambição, que leva uma vida absolutamente medíocre até o dia em que acorda para se ver, sem mais nem menos, transformado em megacelebridade. Passa então a arrastar atrás de si hordas de paparazzi, dá entrevistas constantes para a TV e ganha tratamento VIP em restaurantes e pré-estreias cinematográficas. Não lhe falta sequer o assédio agressivo de mulheres estonteantes. Pisanello fica confuso. A princípio a novidade – que lhe parece imerecida, ilógica – o irrita. O que ocorre em seguida é melhor conferir no cinema.
Se faltassem outras qualidades ao divertido – ao seu modo tolinho – “Para Roma com amor”, Leopoldo Pisanello seria suficiente para garantir seu lugar em qualquer antologia cômica. O filósofo Spinoza disse no século 17 que o problema de perseguir a fama a qualquer preço é que somos obrigados a satisfazer a fantasia dos outros, sacrificando qualquer verdade pessoal para buscar apenas aquilo que os satisfaz. Até aí, a notícia é velha.
O que torna o personagem de Allen e Benigni tão dolorosamente contemporâneo é a descoberta cínica de que a fantasia dos outros pode ser a única verdade pessoal.