A esbórnia veio da Itália, mas fez escala em Buenos Aires
Raul Pederneiras no traço de Carlos Reis: o padrinho da esbórnia Parece um certo preciosismo que a palavra esbórnia tenha duas acepções no Houaiss, tão próximas são elas: 1. festa ou encontro festivo em que predominam o hedonismo e o desregramento; farra, pândega; 2. orgia sexual. Continua após a publicidade Por outro lado, ao citar […]

Parece um certo preciosismo que a palavra esbórnia tenha duas acepções no Houaiss, tão próximas são elas: 1. festa ou encontro festivo em que predominam o hedonismo e o desregramento; farra, pândega; 2. orgia sexual.
Por outro lado, ao citar sobre a etimologia do termo apenas as observações de Antenor Nascentes, é provável que o melhor dicionário da língua portuguesa tenha omitido um detalhe importante.
Segundo Nascentes, esbórnia veio do italiano sbornia, palavra registrada pela primeira vez em meados do século XIX e que significa “bebedeira, carraspana, porre”. Trata-se de um termo presumivelmente derivado do latim popular ebrionia, parente do latim clássico ebrius (“bêbado”).
O que faltou mencionar é a forte possibilidade de que, entre o italiano e o português, esbórnia tenha feito escala no lunfardo esbornia, que também significa bebedeira.
A data do primeiro registro do termo em português (1922, em texto do caricaturista e escritor Raul Pederneiras, segundo o mesmo Houaiss) situa sua importação no período – a primeira metade do século XX – em que mais palavras fomos buscar nesse jargão de malandros de Buenos Aires. Entre elas, em posição de destaque, está “bacana” (leia mais aqui). O significado pertencente ao campo da orgia reforça tal hipótese.
No entanto, o dicionário de lunfardo de Gobello e Oliveri registra para a palavra apenas as acepções de “bebedeira” ou, por extensão, “orgia de comida e bebida” (borrachera). O que sugere ser coisa nossa a dilatação do sentido de esbórnia para abarcar o desregramento, inclusive sexual, que costuma advir dos grandes pifões.