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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

A coisa sem nome e o nome da coisa

Quando a coisa sem nome apareceu no mundo das palavras, infundiu a todos uma sensação parecida com o pânico. Não era bem pânico, pânico era uma aproximação tosca. No entanto, como o mundo das palavras não admite que coisa alguma fique sem nome por mais de alguns segundos – daí, precisamente, um exemplar do gênero […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 08h56 - Publicado em 6 Maio 2012, 16h33

Quando a coisa sem nome apareceu no mundo das palavras, infundiu a todos uma sensação parecida com o pânico.

Não era bem pânico, pânico era uma aproximação tosca. No entanto, como o mundo das palavras não admite que coisa alguma fique sem nome por mais de alguns segundos – daí, precisamente, um exemplar do gênero provocar reações emocionais tão extremas – adotou-se a solução provisória de chamar a coisa de pânico mesmo. Enquanto alguém não aparecesse com uma ideia melhor.

Muitos tentaram. Os neologistas saíram-se com propostas esdrúxulas como râmnico, umbilurismo e ajojocaba. Este último vocábulo, com sua simpática sonoridade indígena, chegou a ser adotado por um influente canal de TV, que passou a martelá-lo dia e noite em seus noticiários.

Ao fim de alguns meses, contudo, nenhum dos neologismos havia caído no gosto do público, que continuava a chamar a coisa de pânico – com aspas gráficas ou entoadas, conforme o modo de expressão fosse escrito ou oral.

Que fique “pânico” mesmo então, passaram a defender os realistas. Ao que os metafóricos acrescentavam: e sem aspas!

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Bem que o mundo das palavras tentou. A essa altura, porém, um novo e imprevisto problema havia se instalado: aquele tempo de convivência tinha levado todo mundo a se sentir à vontade com “pânico”. Do pânico inicial que a coisa havia inspirado, não sobrava o menor resquício. Na verdade, se fossem escolher agora uma palavra para nomear, numa aproximação tosca, a sensação que a coisa infundia, seria “conforto”.

Não era bem isso, mas chegava perto. Naturalmente, chamar algo tão confortável de “pânico” era muito desconfortável, o que não demorou a provocar novamente um princípio de pânico no mundo das palavras. Isso, claro, inviabilizou as tentativas de rebatizar a coisa como conforto. Nessa sinuca de bico estamos até hoje.

Não é preciso ser uma autoridade em assuntos de língua para imaginar o potencial destrutivo de tal situação para o mundo das palavras. Mais um pouco e os niilistas começarão a cantar vitória para suas teses de arbitrariedade total do sentido, e aí sim vocês vão ver o que é pânico – sem aspas!

Encontrar uma palavra que nomeie essa coisa de uma vez por todas é tarefa grave e urgente. De preferência com três sílabas ou menos, o resto é livre. Cartas para a redação.

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