A catimba argentina (com perdão da redundância)
Na imprensa esportiva brasileira, é comum que frases contendo a expressão “futebol argentino” sejam adornadas em algum momento pela palavra catimba. É provável que haja na recorrência dessa associação um excesso preconceituoso: desde quando os jogadores brasileiros são modelos de bom comportamento? Esta semana, porém, o time do Tigre tratou de reavivar o fundamento desse […]

Na imprensa esportiva brasileira, é comum que frases contendo a expressão “futebol argentino” sejam adornadas em algum momento pela palavra catimba. É provável que haja na recorrência dessa associação um excesso preconceituoso: desde quando os jogadores brasileiros são modelos de bom comportamento? Esta semana, porém, o time do Tigre tratou de reavivar o fundamento desse automatismo vocabular.
Ao se recusar a voltar a campo para o segundo tempo da partida decisiva da Copa Sul-Americana contra o São Paulo no Morumbi, alegando ter sido agredido no vestiário por seguranças da equipe brasileira, o violento time argentino – que perdia por 2 a 0 – forneceu uma boa ilustração para a acepção esportiva de catimba. Esta é registrada no Houaiss como “procedimento utilizado em certas competições esportivas, especialmente futebol, e que consiste em prejudicar o desempenho do adversário por meio de recursos astuciosos e, às vezes, antiesportivos”. No caso o prejuízo do campeão São Paulo – ressalvada uma reviravolta jurídica improvável – foi o de ver frustrada uma goleada provável.
O brasileirismo catimba tem origem obscura, mas sonoridade decididamente africana. A única tese a respeito é do estudioso Nei Lopes e merece consideração, mesmo porque nenhuma etimologia adversária se apresentou para desafiá-la: situa a matriz de catimba no quimbundo (língua angolana da família banta) kantimba, que significa lebre, com influência de ndimba, “pessoa astuciosa”.