‘À beça’ tem mesmo a ver com o Bessa?
“Caro Sérgio, parabéns pela excelente coluna! Minha dúvida é daquelas que não vão mudar o mundo: é verdade que a expressão ‘à beça’, que significa ‘muito’, começou como homenagem a um jurista chamado Bessa? Ou isso é aquilo que você chama de lenda etimológica?” (Rafael Rego) Rafael refere-se, como se vê, a uma locução brasileira […]
“Caro Sérgio, parabéns pela excelente coluna! Minha dúvida é daquelas que não vão mudar o mundo: é verdade que a expressão ‘à beça’, que significa ‘muito’, começou como homenagem a um jurista chamado Bessa? Ou isso é aquilo que você chama de lenda etimológica?” (Rafael Rego)
Rafael refere-se, como se vê, a uma locução brasileira antiguinha – registrada pela primeira vez em torno de 1910, segundo o Houaiss – mas que ainda goza de boa saúde na língua das ruas: “à beça”, que pode significar tanto “em grande quantidade” quanto “com muita intensidade”.
O personagem a que o leitor se refere, o jurista e político Gumersindo Bessa (foto, 1859-1913), é realmente o protagonista da tese mais popular – o que não garante sua veracidade, como veremos adiante – sobre a origem da expressão. Como se trata da história mais divertida, é a única que costuma ser alardeada em livrinhos de divulgação etimológica e correntes internéticas.
Por exemplo: logo no verbete de abertura de “A casa da Mãe Joana 2”, de Reinaldo Pimenta, o título mais vendido desse filão editorial que teve seu auge nos primeiros anos do século XXI, a tese Bessa é comprada sem hesitação. Diz o autor que tudo começou com a fama conquistada pelo jurista (que ele e também o Houaiss apresentam como alagoano, mas na verdade era sergipano) ao derrotar Rui Barbosa em certo debate. “Posteriormente, mas não muito”, prossegue, “Rodrigues Alves (presidente do Brasil de 1902 a 1906) diria a um cidadão que lhe apresentava um pedido com justificativas infindáveis: ‘O senhor tem argumentos à Bessa’. A partir daí, popularizou-se a expressão à beça com o sentido de em grande quantidade ou intensidade.”
Curioso, não? Faltou dizer que a tese Gumersindo Bessa, além de ser uma entre outras, é encarada com especial ceticismo por muitos estudiosos. A razão disso não é a disparidade de grafia, pois há registros da expressão como “à bessa” em suas primeiras ocorrências, mas o fato de haver possibilidades menos pitorescas em jogo. O Houaiss, depois de registrar corretamente a “origem obscura” da locução (o que mais se pode fazer num caso desses?), mostra alguma simpatia pela tese da adaptação de uma velha expressão francesa, à verse, que significa “em quantidade, a cântaros”.
O fato é que também esta não passa de uma tese. A etimologia não é ciência exata e certas partidas, a menos que se desencavem documentos inéditos e sensacionais, são impossíveis de desempatar. Já se acreditou também numa origem africana ou tupi. O filólogo João Ribeiro, autor do saboroso “Curiosidades verbais”, especulou que tudo pode ter começado com um termo do português antigo caído em desuso: abesso, ou seja, “sem ordem, sem razão”.
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