Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
Continua após publicidade

‘A bassoura barreu’: erro ou arcaísmo?

Essas formas são registradas como antigas pelos dicionários, mas a oscilação entre 'v' e 'b' tem raízes fundas e se mantém viva no português

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 00h37 - Publicado em 27 ago 2015, 12h38

magic broom disney

“Boa tarde, prezado Sérgio.

Observando o movimento numa sala de espera, vi uma funcionária falar para um cidadão: ‘Licença , senhor, preciso barrer aí!’

Lembrei-me de que as pessoas no interior costumeiramente pronunciam e escrevem ‘barrer’, ‘bassoura’ etc. Quando criança, já me disseram que ‘bassoura’ se tratava da derivação do vocábulo latino e era uma forma antiga ou coloquial de se pronunciar ou escrever o substantivo.

Pesquisei ‘barrer’ e ‘bassoura’ no dicionário (Aurélio) e há a referência a ‘antigo’ e ‘popular’. Existe também a catalogação do vocábulo ‘bassoura’ no VOLP, no qual, contudo, inexiste a previsão de ‘barrer’.

Apesar disso, levei a dúvida a um grupo de colegas e um companheiro falou que falar ‘barrer’ e derivados estava errado. Seria fruto da colonização espanhola em determinadas regiões do Brasil, enraizando-se a pronúncia do fonema ‘v’ (b) em espanhol.

Já sabe o resultado? Uma grande sujeira em forma de dúvidas.

Portanto, gostaria, se possível, de que esse impasse fosse varrido, mesmo tendo quase certeza de que ‘barrer’ e seus derivados vão de encontro à norma culta. Trata-se, pois, de um problema de ortoépia, de barbarismo ou é apenas um vocábulo em desuso?

Um abraço.” (João A. Ferro)

A consulta de João descortina um interessante aspecto histórico da língua portuguesa: o da oscilação entre as pronúncias v e b em determinados vocábulos.

Trata-se de oscilação antiga, enraizada na formação de nosso idioma e em sua relação com o latim. Está errado, portanto, quem suspeita de uma influência da “colonização espanhola em determinadas regiões do Brasil”. A questão é profunda e não só brasileira.

Como ensina Said Ali em sua “Gramática histórica”, “ao constituir-se o idioma português, a oclusiva b do latim clássico, vindo em posição intervocálica, pronunciava-se como constritiva [v]. Este fato é atestado pelos vocábulos dever (de debere), haver (de habere), trave (de trabe), fava (de faba), escrever (de scribere)…”.

Continua após a publicidade

Houve outras palavras, anota o gramático, em que a troca inicial de b por v acabou revertida. Foi assim que as formas bêvado, avorrecer e távoa, que foram usadas até o século XVI, deram lugar, respectivamente, a “bêbado”, “aborrecer” e “tábua”.

Os termos “bassoura” (de versoria) e “barrer” (de verrere) não se enquadram exatamente no padrão acima, uma vez que o v já existia nas palavras latinas que lhes deram origem. Ocorre que o trânsito de mão dupla entre v e b na língua portuguesa não demorou a adquirir dinâmica própria.

“Bassoura” e “barrer” são formas que os dicionários registram como “antigas” e “informais” – ou seja, mesmo que sobrevivam residualmente na fala popular, devem ser evitadas na norma culta.

Continua após a publicidade

Há outros casos em que se admite, ainda hoje, empregar as duas formas. Por exemplo: “vasco” é uma versão não preferencial de “basco”; “basculhar”, uma variante menos usada de “vasculhar”. Nenhuma delas, porém, é condenada pelos lexicógrafos.

O caso mais presente na língua contemporânea parece ser o do par “assobio” e “assovio”, em que o primeiro, mesmo tido como preferencial, ainda tem trabalho para competir com o segundo pelos favores dos falantes.

*

Envie sua dúvida sobre palavra, expressão, dito popular, gramática etc. Às segundas, quartas e quintas-feiras o colunista responde ao leitor na seção Consultório. E-mail: sobrepalavras@todoprosa.com.br (favor escrever “Consultório” no campo de assunto).

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.