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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

A autoestima do falante e a baixa estima pela língua

“Prezado Sérgio, tive recentemente uma discussão com o meu irmão, mas terminamos na maior dúvida: qual é o oposto de autoestima? Está certo falar em ‘baixa estima’ ou devemos usar a expressão completa, ‘baixa autoestima’, que eu acho meio desajeitada?” (Ana Paula Flores) Ana Paula tem razão: “baixa autoestima” não é o encontro de vocábulos […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 12h29 - Publicado em 24 mar 2011, 13h25

“Prezado Sérgio, tive recentemente uma discussão com o meu irmão, mas terminamos na maior dúvida: qual é o oposto de autoestima? Está certo falar em ‘baixa estima’ ou devemos usar a expressão completa, ‘baixa autoestima’, que eu acho meio desajeitada?” (Ana Paula Flores)

Ana Paula tem razão: “baixa autoestima” não é o encontro de vocábulos mais harmônico que existe em português. O choque de “baixa” com “auto”, embora semanticamente nada tenha de errado, pode soar desagradável. Em compensação, “baixa estima” – com o sentido de escasso amor-próprio, pouco apreço por si mesmo – é muito pior: um erro constrangedor do qual se deve fugir.

Tão constrangedor quanto disseminado, e presente até no texto de gente respeitável, o equívoco de “baixa estima” (que alguns escrevem com hífen, mas isso pouco importa neste caso, pois não se pode piorar o que já nasceu torto) é criar mentalmente uma oposição entre “auto”, prefixo de origem grega que indica reflexividade, aquilo que se volta para si mesmo, e “baixo”. Ou seja, confundir “auto” com “alto”.

Se o autorretrato não se opõe ao baixo retrato, nem o automático ao baixomático, a autoestima (que teve o hífen abolido na última reforma ortográfica) não pode ter como antípoda a baixa estima. É possível falar em baixa estima, evidentemente, mas deve-se indicar por que pessoa ou coisa se sente pouco apreço: “Tenho baixa estima por sopa de inhame”. A ideia de reflexividade passa longe da frase.

Quanto ao problema de eufonia que existe em “baixa autoestima”, pode-se evitá-lo de muitas maneiras, usando sinônimos ou paráfrases: “pouca autoestima”, “falta de autoestima”, “autoestima deficiente”, “problema de autoestima” etc.

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Sim, eu sei que a língua é viva e que o uso, soberano, termina muitas vezes por legitimar desvios gramaticais e semânticos. Já tratamos de diversos casos do gênero aqui na coluna. Posso estar enganado, claro, mas não me parece que a baixa estima, fruto de uma leitura que chega a ser cômica de tão desleixada, mereça esse olhar compreensivo. Como o proverbial charuto de Freud, existem casos em que um erro é só um erro mesmo.

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