A atração fatal do pronome pela conjunção
“Li em um livro que a conjunção subordinativa ‘se’ atrai o pronome, por questões de eufonia. Diante disso, gostaria de saber se é correto utilizar ‘sabe-se’, como já vi em vários lugares. Exemplo: ‘Sabe-se que o Rio de Janeiro é um lugar muito bonito’.” (Raul de Luca) Sim, é verdade que as conjunções subordinativas – […]
“Li em um livro que a conjunção subordinativa ‘se’ atrai o pronome, por questões de eufonia. Diante disso, gostaria de saber se é correto utilizar ‘sabe-se’, como já vi em vários lugares. Exemplo: ‘Sabe-se que o Rio de Janeiro é um lugar muito bonito’.” (Raul de Luca)
Sim, é verdade que as conjunções subordinativas – não apenas “se”, mas também “como”, “quando”, “porque” e outras – chamam para si, por assim dizer, os pronomes átonos. Mas não, o exemplo apresentado por Raul não tem nada a ver com isso.
“Sabe-se que o Rio de Janeiro é um lugar muito bonito” é uma construção irretocável – e desprovida de conjunção. O “se” aí é um pronome que indica indeterminação do sujeito.
Se modificarmos a frase para introduzir nela uma conjunção subordinativa, veremos que o pronome “se” muda de lugar em relação ao verbo: “Como se sabe que o Rio de Janeiro é um lugar muito bonito, decidimos passar as férias lá”.
Onde tínhamos a ênclise “sabe-se” – isto é, o pronome vindo após o verbo – temos agora uma próclise, um pronome anteposto ao verbo, por força da conjunção “como”.
O mesmo ocorre se a conjunção for “se” – e atenção, ainda que o encontro de conjunção e pronome, se-se, soe desagradável, é esta a forma gramaticalmente correta: “Por que tantos cariocas estão falando mal de sua cidade, se se sabe que o Rio de Janeiro é um lugar muito bonito?”.
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