Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

A algazarra e o alarido nasceram no campo de batalha

Existem em português duas bonitas e tradicionais palavras – ainda muito vivas – que, além de carregar o sentido de gritaria, bagunça, bulício, azáfama, balbúrdia, compartilham o fato de terem vindo da guerra: algazarra e alarido. Hoje domesticadas, com conotações até familiares, ambas já tiveram a acepção (caída em desuso no caso da primeira e […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h40 - Publicado em 6 ago 2013, 14h05

Existem em português duas bonitas e tradicionais palavras – ainda muito vivas – que, além de carregar o sentido de gritaria, bagunça, bulício, azáfama, balbúrdia, compartilham o fato de terem vindo da guerra: algazarra e alarido. Hoje domesticadas, com conotações até familiares, ambas já tiveram a acepção (caída em desuso no caso da primeira e pouco comum no caso da segunda) de gritaria das tropas no campo de batalha.

É possível que elas tenham ainda um terceiro ponto em comum: a origem árabe. Sobre este, porém, paira uma nuvem de incerteza. Se ninguém discute que algazarra, um termo do século XV, é uma das cerca de seiscentas palavras que os mouros deixaram para trás ao serem expulsos da Península Ibérica, alarido, que nasceu no século anterior, tem etimologia controversa, embora a tese de uma matriz árabe sempre apareça com força entre as cogitações dos sábios.

Algazarra veio de al-gazara, “multidão, abundância; gritaria, ruído com ira”. O primeiro sentido que teve na infância de nossa língua era decididamente guerreiro: designava o escarcéu que os exércitos mouros aprontavam no início das batalhas, como forma de se motivar e assustar os inimigos. Como almofada, açúcar, arroz, armazém, alface, alcachofra, algoz e algodão, entre tantos outros vocábulos, algazarra carrega o artigo árabe al (com o l assimilado antes de r, z, c e d) como marca eloquente de origem.

Alarido, à primeira vista, está no mesmo caso, e de fato a tese de uma origem no árabe al-arir (“barulho”) tem defensores de respeito. No entanto, entre outras especulações, há estudiosos que a ligam a uma palavra de formação expressiva, do tipo em que o som puxa o sentido – o espanhol alalido ou o francês hallali, um grito de caça, segundo o filólogo catalão Joan Corominas. De uma forma ou de outra, sua primeira acepção no Houaiss é “grito de guerra, clamor de combate”.

É curioso o modo como a passagem dos séculos tirou dos substantivos algazarra e alarido o gosto de sangue, apaziguando-os até que um ar de inocência bagunceira permitisse a Olavo Bilac escrever os seguintes versos, no poema Meio-dia: “Há recreio nas escolas:/ Tira-se, numa algazarra,/ A merenda das sacolas”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.