‘Obrigado eu’ ou ‘obrigado você’?
“Sérgio, quando faço alguma compra no varejo, ao final dela o vendedor me diz ‘Obrigado’. A resposta mais conveniente seria obviamente o ‘De nada’. Mas existe outra maneira: seria ‘obrigado eu’ ou ‘obrigado você’? Obrigado.” (Marcelo Martini) Como adianta o próprio Marcelo, a resposta consagrada é mesmo “De nada”. Das duas variantes que ele apresenta, […]
“Sérgio, quando faço alguma compra no varejo, ao final dela o vendedor me diz ‘Obrigado’. A resposta mais conveniente seria obviamente o ‘De nada’. Mas existe outra maneira: seria ‘obrigado eu’ ou ‘obrigado você’? Obrigado.” (Marcelo Martini)
Como adianta o próprio Marcelo, a resposta consagrada é mesmo “De nada”. Das duas variantes que ele apresenta, a única correta – ainda que, a meu ver, um tanto deselegante – é “obrigado eu”. Embora se encontre muito por aí o “obrigado você”, trata-se de uma construção que expressa o oposto do que o falante acredita expressar.
Para entender por que isso ocorre, convém recordar o que escrevi no post intitulado “Por que dizemos ‘obrigado’ quando agradecemos” (leia a versão integral aqui):
O particípio do verbo obrigar (do latim obligare, “ligar por todos os lados, ligar moralmente”) expressa o reconhecimento de uma dívida entre quem recebe um favor ou gentileza e quem o faz – ambos, dessa forma, ligados, atados, presos por um laço moral.
A frase completa seria “fico-lhe obrigado”, ou seja, “passo, a partir deste momento, a ser seu devedor”. Na linguagem jurídica, obrigado é também um substantivo que significa “sujeito passivo de uma obrigação”, isto é, de uma dívida ou outro compromisso contratual.
Se “obrigado” – que já ganhou uma autonomia de interjeição – tem origem na frase “Fico-lhe obrigado”, é claro que “obrigado você” acaba sendo, ainda que de forma involuntária, uma grosseria: a reafirmação de algo que o interlocutor acaba gentilmente de dizer. “Obrigado a você”, sim, seria aceitável: “Eu é que fico obrigado a você”.
“Obrigado eu”, forma reduzida de “obrigado fico eu”, pode não ser bonito, mas tem a imensa vantagem de não significar o oposto do que se imagina.
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