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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

‘Incomodação’ existe? Se não existisse, não estaria aqui

“Sinto vergonha de escrever este e-mail, mas o escreverei mesmo assim. Tenho dúvidas quanto à palavra ‘incomodação’. É uma palavra tão utilizada aqui em Florianópolis… Certo dia, conversando via chat com alguém do Nordeste, essa pessoa me informa que a palavra não existe. O choque foi grande, fiquei espantado com isso, não é possível que […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 03h39 - Publicado em 18 jun 2014, 11h29

“Sinto vergonha de escrever este e-mail, mas o escreverei mesmo assim. Tenho dúvidas quanto à palavra ‘incomodação’. É uma palavra tão utilizada aqui em Florianópolis… Certo dia, conversando via chat com alguém do Nordeste, essa pessoa me informa que a palavra não existe. O choque foi grande, fiquei espantado com isso, não é possível que a palavra não exista. Consultei diversos dicionários até que me convencesse do fato. Depois de muito pesquisar e não obter grandes explicações, tive que me convencer muito a contragosto de que a palavra de fato não existe. Mas se existe incômodo, incomodar, por que não incomodação? Não deveria ser natural a sua existência? Talvez seja um problema da formação das palavras. Alguma regra que desconheço. Se puder elucidar, ficaria muito contente e mais tranquilo.” (Daniel Brisolara)

A palavra incomodação só incomoda Daniel porque, como a maior parte da humanidade, ele é vítima de um equívoco: o de acreditar que o simples fato de não constar no dicionário significa que uma palavra “não existe”. Ora, se não existisse, incomodação não seria um substantivo feminino tão falado em Florianópolis, segundo o próprio leitor – ou em Minas Gerais, segundo eu mesmo, para ficar em apenas dois testemunhos. Se não existisse, não estaria aqui, com todas as letras, provocando esta conversa.

O senso comum tende a acreditar que as palavras nascem magicamente nos dicionários e depois, decerto às custas de muito estudo da coletividade de falantes, pulam para a língua que as pessoas usam em casa, na rua, no escritório, no bar. O processo, claro, é justamente o inverso. “Trimúngulo” é uma palavra da qual se pode dizer que, esta sim, não existe, porque acabei de inventá-la. Incomodação é outra história.

O que ocorre é que estamos diante de um brasileirismo consagrado há gerações (pelo menos, posso atestar, desde o tempo de meus avós), diante do qual nossos ilustres lexicógrafos estão comendo mosca. Mas tudo bem, um dia eles acordam.

Incomodação é sinônimo de incômodo, “aquilo que incomoda”? Sim, o que provavelmente explica a necessidade de sua criação: se incômodo pode ser adjetivo e substantivo, ela elimina qualquer ambiguidade. Mas existe também uma sutil diferença de ênfase: a incomodação costuma ser mais ativa, mais persistente, mais irritante que um simples incômodo.

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E quem, depois de tudo isso, ainda fizer questão de que suas palavras venham munidas de atestados cartoriais, sob pena de serem declaradas não existentes, vai gostar de saber que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, já acordou: “incomodação” está lá.

Publicado em 6/1/2011.

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