‘Go’, ‘goal’, gol, gols: o que tem a ver e o que não tem
“Eu, assistindo a um filme em inglês, ouço ‘Go’, e como o futebol nasceu na Inglaterra gostaria de saber se há uma ligação entre a palavra ‘gol’ e essa palavra da língua inglesa, o torcedor dizendo: ‘Go, go, make the gol’.” (Thiago Lima) A semelhança é fortuita, Thiago. Nosso substantivo gol foi, sim, como grande […]
“Eu, assistindo a um filme em inglês, ouço ‘Go’, e como o futebol nasceu na Inglaterra gostaria de saber se há uma ligação entre a palavra ‘gol’ e essa palavra da língua inglesa, o torcedor dizendo: ‘Go, go, make the gol’.” (Thiago Lima)
A semelhança é fortuita, Thiago. Nosso substantivo gol foi, sim, como grande parte do vocabulário futebolístico, importado do inglês, mas não do verbo to go (ir) e sim do substantivo goal (meta). Go e goal não estão relacionados em sua língua de origem: o primeiro veio do inglês arcaico gan (“avançar”) e o segundo, presumivelmente, do inglês arcaico gal (“obstáculo”), segundo o dicionário etimológico de Douglas Harper.
No Brasil, gol fez sua primeira aparição por escrito na revista “O Malho” em 1904, de acordo com o Houaiss. Iniciava-se ali a carreira de uma palavra popularíssima que carrega em si duas extravagâncias.
A primeira é um desencontro entre pronúncia e grafia. Em português, a terminação em ol costuma ser reservada apenas a palavras que pronunciamos com o o aberto, como futebol, sol, anzol etc. São somente duas as exceções: álcool, que leva acento na primeira sílaba, e gol por nenhuma razão além do respeito à prosódia da palavra inglesa que lhe deu origem.
A segunda peculiaridade de gol, provavelmente relacionada com a primeira, é o plural “gols”. Pela cartilha, a flexão de número gramaticalmente correta desse substantivo seria “gois” ou “goles” – que, claro, soam ridículos. Trata-se de um barbarismo consagrado que, por uma questão de bom senso, não se deve nem pensar em corrigir. A língua, como o futebol, não é ciência exata.