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Tolerância é necessária, diz presidente da Bienal do Mercosul

Gilberto Schwartsmann falou sobre mostra encerrada em Porto Alegre após críticas. Ele espera que a Bienal do Mercosul ajude a aumentar a empatia

Por Paula Sperb
Atualizado em 12 set 2017, 09h19 - Publicado em 11 set 2017, 10h27

Ao longo da história, especialmente em períodos mais obscuros como guerras e ditaduras, a arte foi perseguida e censurada quando em choque com os valores sociais vigentes, explica Gilberto Schwartsmann, presidente da Fundação Bienal do Mercosul. A Bienal é o maior evento de arte latino-americana do mundo, realizado a cada dois anos em Porto Alegre.

Schwartsmann lamentou o fechamento da exposição “Queermuseu – cartografias da diferença na arte da brasileira”, no Santander Cultural, na capital gaúcha. A mostra sobre diversidade, com obras de artistas como Alfredo Volpi e Cândido Portinari, foi encerrada após críticas de grupos religiosos e também do MBL (Movimento Brasil Livre). Os grupos alegam que as obras mostram pedofilia e zoofilia.

“Fiquei triste. As pessoas têm o direito de gostar e de não gostar, de querer e de não querer. Mas precisam respeitar. O que a gente precisa é de uma lição de tolerância. Entendo todos os lados. As pessoas não estão preparadas para certas coisas. Isso aconteceu muito na história. Coisas que nos assustam em 2020, não nos assustam em 2040”, disse Schwartsmann a VEJA sobre o fechamento .

“A gente ainda está engatinhando quando o assunto é respeito às diferenças, respeito ao que os outros pensam. A 11ª Bienal vai falar da formação o povo brasileiro e sobre a grande beleza na mistura de raças”, disse Schwartsmann. A próxima edição do evento, de 6 de abril a 5 de junho de 2018, discutirá sobre negros e indígenas com o tema “O Triângulo do Atlântico” sob curadoria do alemão Alfons Hug, que já foi curador da prestigiada Bienal de Veneza. A exposição “Queermuseu” teve curadoria de Gaudêncio Fidelis, que foi o curador-chefe da Bienal do Mercosul anterior, de 2015.

Racismo

O presidente da Bienal diz que não teme protestos contra as obras que serão expostas no ano que vem porque espera que a discussão racial colabore para o sentimento de empatia e reconhecimento das origens brasileiras. “A gente tem que correr riscos. Nossa Bienal vai tratar da formação do nosso povo, através do indígena, europeu e do negro. Teremos grande ênfase na arte da África e afro-brasileira. Vamos dar mais visibilidade à cultura indígena. Vai ter muita arte europeia também, mas sem esquecer os elementos que, em geral, são esquecidos”, explica Schwartsmann, que também é médico oncologista e professor titular de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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“Na medida em que vou a uma exposição e começo a ver coisas muito bonitas de um grupo que eu achava que não era eu, começa uma aproximação”, exemplifica o presidente.

Segundo ele, os negros são “subrepresentados” na economia, cultura e política e até na medicina, sua área, considerando a importância na história do país. “Vamos trazer um tema muito bonito que é a importância da nossa mestiçagem, de respeito às origens. Isso tem que ser um fator de união, não de desunião”, argumentou.

Educação cultural na infância

Para o presidente da Bienal do Mercosul, casos de intolerância e incompreensão da arte como ocorreu em Porto Alegre poderiam ser evitados se o acesso à cultura fosse incentivado desde a infância. Por isso, a Bienal tem realizado diversas atividades descentralizadas para preparar crianças e adolescentes para a visitação do evento em 2018. “Infelizmente, no nosso país, como tem muita desigualdade, apenas alguns conseguem ter formação artística e apreço pela experiência estética”, opinou o presidente.

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“A gente deixa a porta aberta dos museus abertas durante a Bienal, a entrada é grátis. Mas as pessoas não entram! As atividades prévias de descentralização ajudam a fazer que tenham mais gosto pela cultura. É só através da educação”, finalizou.

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