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Ricardo Rangel

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Por que bolsonaristas continuam a xingar Madonna

A tardia discussão sobre a artista americana é uma tática conhecida, mas que ainda dá certo

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 Maio 2024, 19h36
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  • Bolsonaristas xingaram muito Madonna quando ela fez seu show. Os motivos são conhecidos: Madonna é artista, mulher, não depende de homem, é impudente e ainda promove a cultura LGBT. Tudo de ruim.

    Quase uma semana depois, continuam xingando. Mas não é mais — não só, pelo menos — pelos mesmos motivos.

    “Ela deveria ter feito um minuto de silêncio pela tragédia no Rio Grande do Sul”.

    “Ela deveria ter doado um milhão de dólares para ajudar o Sul.”

    “Ela deveria isso”. “Ela deveria aquilo.”

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    E, quando alguém fala do Sul, tem sempre um bolsonarista para vociferar: “mas e a Madonna?”

    Madonna, evidentemente, não tem nada a ver com o sofrimento do povo gaúcho. Nem ninguém tem obrigação de mandar dinheiro para ninguém. Muito menos Madonna, que nem sequer é brasileira — aliás, vale perguntar ao bolsonarista que reclama que a cantora não mandou dinheiro pro Sul: e você, querido, mandou quanto?

    Bolsonaristas continuam a falar de Madonna por três motivos:

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    1) É preciso ter alguma coisa sobre a qual brigar, brigar é vital para movimentos extremistas. A briga é a fonte de tudo, é o que garante a relevância e a repercussão.

    2) É preciso ditar a pauta, e Madonna é um tema fácil. Como ela tem muitos fãs, sempre haverá uma enorme quantidade de gente pronta a aceitar a provocação e defender a cantora.

    3) O bolsonarismo precisa falar da tragédia no Rio Grande do Sul… mas precisa evitar o assunto. Afinal, a questão que interessa aqui é o meio ambiente — e Jair Bolsonaro e os políticos que o apoiam são uma espécie de símbolo exuberante e orgulhoso da agressão ao meio ambiente. (Não que políticos de outras cores sejam inocentes: não são, mas o símbolo mesmo é o ex-presidente.)

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    Madonna é um espantalho, um recurso do bolsonarismo para mudar de assunto.

    Até aí, morreu Neves, é o bolsonarismo sendo bolsonarismo. O que é trágico é que tanto os eleitores moderados de Bolsonaro (sim, eles existem) e os antibolsonaristas se deixem pautar com tanta facilidade e caiam na armadilha.

    E, em vez de discutir, a sério, a terrível tragédia que ainda está se desenrolando, insistem em discutir um show que já foi.

    (Por Ricardo Rangel em 09/05/2024)

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