O que significa o chilique de Arthur Lira?
Há mais do que uma derrota pontual por trás dos impropérios do presidente da Câmara contra o ministro Alexandre Padilha
“Desafeto pessoal” e “incompetente” foram as doces palavras que o presidente da Câmara, Arthur Lira, escolheu para se referir àquele que deveria ser seu principal interlocutor com o governo: o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
A guerra de Lira com Lula — na qual Padilha é apenas um campo de batalha — é antiga, e está ligada, como de hábito, a poder e dinheiro. Passa pelo Ministério da Saúde (maior orçamento da Esplanada, que o Centrão quer controlar), pelo veto de Lula a parte do orçamento eleitoral e outros pedregulhos diversos.
O pedregulho de agora foi a votação da Câmara sobre se o deputado Chiquinho Brazão, acusado do assassinato de Marielle, deveria seguir preso. Lira apostou contra a prisão, liberou o desconto no pagamento a deputados ausentes e posicionou Elmar Nascimento, seu candidato à própria sucessão, a trabalhar contra a prisão.
Se tivesse sucesso, imporia uma derrota ao STF e a Lula e marcaria pontos com os bolsonaristas. Mas o governo trabalhou a favor e denunciou aos quatro ventos a movimentação de Lira. A Câmara (em votação apertada) decidiu manter Chiquinho preso.
Lira perdeu em todas as frentes, se desgastou com todo o mundo, prejudicou ainda mais seu já precário relacionamento com o governo. E, agora, com seus impropérios, garantiu que Padilha ficará no cargo.
Lula apoiou a reeleição de Lira no ano passado (não por gosto, mas por precisão: Lira era imbatível), mas o presidente da Câmara pagou com ingratidão, e atrapalhou muito a vida do governo. Chegou a hora de Lula dar o troco e impedir que Lira faça o sucessor.
O espectro do antecessor de Lira — um presidente ultrapoderoso que, ao sair do cargo, submergiu no ostracismo e no anonimato — ronda a Câmara. Arthur Lira pode ser Rodrigo Maia amanhã.
Lira não está tenso por acaso.
(Por Ricardo Rangel em 12/04/2024)