O que significa a derrota de Pablo Marçal
Por que é um erro achar que o candidato do PRTB está definitivamente derrotado
“Não vai ter segundo turno!”, proclamava Pablo Marçal, prometendo vencer já no primeiro.
Marçal acertou: não haverá segundo turno — pelo menos para ele mesmo.
Felizmente.
Marçal representa a antipolítica: incapaz de fazer uma única proposta, seu método é valer-se de agressões e calúnias para inviabilizar qualquer debate e tornar a si mesmo o centro permanente das atenções. O método, desastroso para a República, mostrou-se extremamente eficaz.
A conduta de Marçal deu margem a que muita gente defendesse a cassação de sua candidatura. Seria uma medida controversa: i) a legislação é ruim, a cassação não seria óbvia; ii) seria pouco democrático tirar da disputa alguém tão popular; e iii) a cassação fortaleceria a tese — já nem tão estapafúrdia, dados os recorrentes excessos do Supremo contra influenciadores de direita — da “ditadura do Judiciário”, tão cara ao bolsonarismo.
A derrota de Marçal é excelente notícia por pelo menos quatro motivos:
1) Se chegasse ao segundo turno, mesmo em caso de derrota, Marçal se tornaria um candidato forte à presidência em 2026 — uma perspectiva aterradora para o país.
2) A derrota, aliada à publicação do laudo flagrantemente falso contra Guilherme Boulos, abre caminho para que Marçal possa ser cassado, ficando fora da política por pelo menos oito anos.
3) A derrota (e eventual cassação) desestimula o surgimento de novos marçais.
4) É mais fácil investigar Marçal no âmbito da Justiça comum: há quem enxergue estelionato, enriquecimento ilícito, envolvimento com o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro etc. etc.
Mas é bom ter cautela: ainda que a derrota seja excelente notícia, será erro grave acreditar que Marçal — ou melhor, aquilo que ele representa — é um problema superado. Não é.
Marçal não é a causa de nossos problemas. Ele é a consequência.
Marçal — como, antes dele, Jair Bolsonaro — não veio do nada. Ele é resultado da frustração e do desencanto de uma enorme parcela do eleitorado, que, cansada de um sistema que não lhe dá respostas básica, vê políticos como parasitas indiferentes a seu sofrimento.
O (res)sentimento que transformou Pablo Marçal — que ficou menos de 1% atrás de Boulos — em fenômeno continua vivo.
É bom nossos políticos acordarem e começarem a dar respostas ao eleitorado.
Porque o Marçal 2.0, seja ele quem for, já está no forno.
(Por Ricardo Rangel em 07/10/2024)