O mundo gira, a Lusitana roda, a mamata permanece
Em seu caminho atrás do dinheiro, a CPI encontra mais um indício de irregularidade
Em 2017, durante o governo Temer, o empresário Francisco Maximiano pediu ao Ministério da Saúde que liberasse pagamento antecipado para um contrato de medicamentos no valor de 19 milhões de reais.
A Coordenação de Execução Orçamentária e Financeira do ministério, com base em orientação normativa da AGU, negou. Dois dias depois, o funcionário responsável foi exonerado. Mais tarde, relatou ao MP ter sofrido pressão do então ministro, Ricardo Barros, para autorizar a liberação irregular.
O mundo girou, Temer saiu, Bolsonaro entrou, Ricardo Barros, acusado de corrupção na Lava-Jato, deixou de ser ministro e passou a ser líder do governo na Câmara. A Lusitana rodou, Maximiano se tornou intermediário na compra da vacina indiana Covaxin.
Maximiano foi recebido na embaixada do Brasil em Nova Deli em 7 de janeiro. No dia seguinte, Bolsonaro enviou carta ao premier indiano informando que a Covaxin havia sido uma das vacinas “escolhidas” pelo Brasil. Não era verdade: naquela época, as únicas vacinas que constavam do Plano Nacional de Imunização do governo eram AstraZeneca, Coronavac, Pfizer e Covax Facility.
Em fevereiro, o governo assinou contrato para comprar 20 milhões de doses da Covaxin por 1,6 bilhão de reais (o contrato com a Pfizer só seria assinado no mês seguinte).
Bolsonaro só comprou a AstraZeneca depois que Doria marcou data para iniciar a vacinação, sabotou a Coronavac o quanto pôde, ignorou a Pfizer durante meses, entrou no Covax Facility com a cota mínima.
Mas teve pressa para comprar uma vacina da qual ninguém nunca tinha ouvido falar, não havia sido aprovada por ninguém, estava envolta em controvérsias, e, a 80 reais a dose, é a vacina mais cara comprada pelo Brasil até agora.
A CPI acaba de aprovar a quebra de sigilo de Francisco Maximiano.