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O Brasil por Tertuliano (e Tertuliana)

Estamos saindo da polarização política para a geleia geral

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 out 2024, 12h25 - Publicado em 25 out 2024, 06h00

A historiadora Tertuliana Lustosa fez uma performance de cunho sexual no I Encontro de Gênero do Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política (Gaep) da Universidade Federal do Maranhão. Travesti, Tertuliana é autora do livro Manifesto Traveco-Terrorista.

“Creio porque é absurdo”, teria dito, no início do século III, o apologista cristão Tertuliano, dando a entender que a realidade, que é absurda, não pode ser explicada racionalmente, exige uma explicação sobrenatural. Daí sua fé.

Tertuliano poderia repetir seu famoso aforismo hoje, não tanto pelo comportamento eventualmente obsceno de uma travesti (algo já conhecido na Roma antiga), mas em relação à política brasileira.

A esquerda identitária celebrou a performance de Tertuliana nas redes enquanto a esquerda sensata reclamou que a performance deu munição para a direita (sensatos de todas as cores alertaram que universidade é para estudar os fenômenos, não para fazer sua apologia, e lamentaram o desgaste sofrido pela instituição).

O antigo desconforto entre a esquerda convencional, interessada no proletariado em geral, e a esquerda identitária, interessada em grupos oprimidos específicos, parece ter chegado ao ponto de fervura.

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Recentemente, o vice-presidente do PT, Washington Quaquá, deu entrevista a VEJA criticando pesadamente seu próprio partido por ter aderido a causas de classe média e abandonado sua tradição de defender os pobres. Só não entendeu quem não quis.

“O desconforto entre a esquerda convencional e a identitária parece ter chegado ao ponto de fervura”

Quaquá é apenas uma das (cada vez mais) numerosas vozes de esquerda dispostas a criticar o identitarismo, cujo hábito de perseguir supostos adversários por supostos delitos de opinião interdita o debate e enfraquece as próprias causas que pretende defender.

O racha não é apenas entre a esquerda convencional e a identitária. Nas cidades em que não foi para o segundo turno, o PT rachou entre a neutralidade e o voto útil em algum candidato de direita que não fosse “ruim demais”. O PDT rachou entre a ala que apoia o PT e a ala de Ciro Gomes, que não apoia. Ciro e o irmão Cid, rompidos desde o ano passado, seguem brigando. Depois de 25 anos no PCdoB, Manuela d’Ávila criticou a falta de diálogo na esquerda e se declarou “sem partido”.

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Entre os identitários, o conflito de Anielle Franco com Silvio Almeida no mês passado levou à queda do ministro. Nesta semana, o site Alma Preta informou que dezessete pessoas teriam relatado situações de assédio moral e racismo no Ministério das Mulheres (entre os algozes estaria a própria ministra, Cida Gonçalves).

A situação na direita não é melhor. Bolsonaristas raiz abandonaram o ex-­presidente Jair Bolsonaro: Marco Feliciano, Nikolas Ferreira e Ricardo Salles aderiram a Pablo Marçal; Otoni de Paula aderiu a Eduardo Paes e fez celebração evangélica para Lula. O próprio Bolsonaro apoiou candidatos contra seu próprio partido, está em guerra com o antes bolsonarista Ronaldo Caiado e luta com Valdemar Costa Neto pelo cofre da fundação do PL.

Estamos saindo da polarização para a geleia geral. Se acreditarmos em Tertuliano, deve ser prova da existência de Deus.

Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916

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