Lula e “a figura” jogam caxangá em São Paulo
O presidente faz o que pode para nacionalizar a eleição para a prefeitura da capital paulista
“Na capital de São Paulo é uma coisa muito especial. Uma confrontação direta entre o ex-presidente e o atual presidente, é entre eu (sic) e a figura”, disse Lula, sem citar nominalmente Jair Bolsonaro.
Ricardo Nunes, prefeito da cidade e candidato à reeleição não gostou: “Ele vai deixar de ser presidente pra ser prefeito? Aqui em São Paulo não é ringue, aqui a preocupação é cuidar da cidade”, disse.
Cada um defende seu interesse. A Lula, que apoia Guilherme Boulos, candidato do PSOL, interessa colar a imagem de Bolsonaro em Nunes. Já o prefeito, que conta com o apoio de Bolsonaro, não quer se comprometer demais com a imagem do ex-presidente.
Mas Nunes está mais próximo de estar certo do que Lula. Afinal prefeito tem um papel de síndico, sua escolha é menos ideológica e menos nacionalizável do que outras eleições. Mas não é só por isso.
Marta Suplicy, petista histórica que rompeu com o partido ao votar a favor do impeachment, e que agora volta ao ninho para ser vice de Boulos, foi secretária de Nunes por três anos. Se Nunes fosse tão idêntico a Bolsonaro quanto Lula quer fazer crer, das duas, uma: ou Marta não teria ficado lá por tanto tempo, ou Lula não a teria convidado para integrar a chapa de Boulos.
Ao falar de São Paulo e atirar em Nunes, Lula deve esperar que Tarcísio de Freitas, muito mais identificado com Bolsonaro e possível candidato em 2026, receba um pouco dos estilhaços.
Lula não sai do palanque, continua falando (mal) de Bolsonaro o tempo todo, tentando manter a polarização e garantir que a eleição de 2026 seja uma nova escolha binária, entre ele e “a figura”.
É uma aposta perigosa. Não só porque, com essa estratégia, Lula quase perdeu a eleição passada. Mas também porque o candidato do bolsonarismo em 2026 será alguém muito mais razoável e palatável pelo centro do que “a figura”.
Por falar em Marta, é interessante que Lula e Boulos, que continuam insistindo que o impeachment foi golpe, tenham convidado uma “golpista” para ser candidata a vice-presidente…
(Por Ricardo Rangel em 23/01/2024)