Conosco ninguém podemos
Todos os países do mundo têm dois problemas monumentais. Nós temos cinco.

Todos os países do mundo têm dois problemas monstruosos: a pandemia e a recessão dela decorrente.
O Brasil tem cinco problemas monstruosos. Além dos dois problemas que todo mundo tem, nós enfrentamos três outros que ninguém mais sequer consegue conceber:
1) A crise da administração da saúde e do combate à pandemia. O presidente do Brasil nega a realidade, faz de conta que a maior crise sanitária dos últimos 100 anos é uma gripezinha. Coerente, sai às ruas, se mistura com seus fãs, combate o isolamento, estimula a população a pôr a vida em risco. E demite um ministro bem avaliado e bota em seu lugar um dois de paus.
2) A crise da administração da economia e do combate à recessão. O presidente do Brasil atropela seu ministro da economia e encomenda a ministros militares, que nada entendem do assunto, que preparem um pacote econômico — vem uma pacote-girafa que poderia ser assinado por Dilma. A equipe econômica ameaça se demitir, e Bolsonaro dá entrevista prestigiando Paulo Guedes, o que é boa notícia, mas a verdade é que Guedes tampouco tem uma visão minimamente razoável sobre o que deve ser feito.
3) A crise política. O presidente do Brasil tenta interferir na Polícia Federal, leva seu ministro da Justiça a se demitir e a denunciá-lo como criminoso. O próprio Bolsonaro confessa seu crime na TV, e, coerente, tenta nomear um amigo para diretor da PF. O Supremo o impede, o presidente não se conforma, e passa a desancar o ministro que ousou contrariá-lo. A crise política, que já era gigante, passa a ser uma crise institucional.
De nossos cinco monumentais problemas, um foi criado pela natureza, outro decorre das leis da economia, e os outros três foram criados por Jair Bolsonaro, o Único, sem a ajuda de ninguém.