Alexandre Ramagem e o incrível esquema Tabajara em torno de Jair Bolsonaro
É fascinante a quantidade de patetas que o ex-presidente conseguiu reunir em torno de si
Alexandre Ramagem, homem de confiança de Jair Bolsonaro e seu candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, diz que não se lembra de ter gravado o chefe, que não é do seu “feitio” gravar pessoas.
Só rindo.
Ramagem era chefe de uma agência de espionagem, o tipo de instituição em que gravar pessoas é o que se faz no café, no almoço e no jantar. Antes disso, foi delegado da Polícia Federal (da qual, se dependesse do chefe, teria sido diretor), outra função em que gravar pessoas é atividade cotidiana.
Sem falar que a PF descobriu a gravação quando investigava o monitoramento ilegal de pessoas (o que, é de se supor, incluía gravá-las) feito por… Ramagem.
Mas a cara-de-pau de Ramagem é o que menos impressiona em seu caso. Gravar o próprio chefe já seria surpreendente; gravar o presidente da República é espantoso; gravar a si mesmo participando de um crime é inacreditável.
E o que dizer de não ter se livrado da gravação comprometedora, mesmo sabendo que a investigação está correndo desde 2021? Não ocorreu a Ramagem jogar o telefone fora e mudar sua conta na nuvem? O talento e a imaginação de Ramagem como espião são abaixo da crítica.
Verdade seja dita, Ramagem está longe de ser um ponto fora da curva no staff de Bolsonaro. O general Lourena Cid tirou foto de si mesmo com a muamba. Mauro Cid botou por escrito que o dinheiro obtido com a traficância não deveria passar pela rede bancária. Fizeram leilão público para vender as joias.
Fred Wassef assinou recibo para a recompra da joia roubada. Zambelli acreditou no ararahacker. Jair Renan falsificou um documento para pegar um empréstimo… e deu calote no empréstimo. (Se fôssemos continuar, este post não acabaria.)
O que mais impressiona em Jair Bolsonaro é a quantidade de patetas de que se cercou. O que une a arapongagem da Abin paralela, o esquema de desvio das joias, a fraude das vacinas, a tentativa de golpe e os todos outros crimes, é, acima de tudo, o insuperável espírito tabajara.
Sorte a nossa: se, mesmo sendo tão patetas, quase venceram a eleição, o que seria do Brasil se tivessem mais uns 10 gramas de discernimento?
(Por Ricardo Rangel em 15/07/2024)