A crise na Petrobras se alastra. Lula fica parado.
Não se sabe quando vai acabar o turbilhão na maior empresa brasileira. Mas todo mundo sabe como acaba.
Há cerca de um mês, o governo interferiu na Petrobras e determinou a retenção de dividendos que estavam programados para ser distribuídos. Foi um abuso de poder que provocou uma queda de 10%, mais de 50 bilhões de reais, no valor da empresa.
Desde então, o governo bate cabeça. Reverteu a reversão da distribuição dos dividendos — mas até hoje não decidiu quanto vai pagar. Decidiu demitir o presidente da empresa, mas voltou atrás (Jean-Paul Prates fica, mas em liberdade vigiada). As intrigas envolvendo Prates e os ministros Alexandre Silveira e Rui Costa seguem.
A crise se alastra. Há uma briga entre a auditoria interna e a diretoria sobre um negócio — que a primeira não entende e a segunda não explica — com a empresa baiana Unigel, que vai dar um prejuízo de meio bilhão de reais.
A operação tem cheiro de resgate de um bilionário velho amigo do PT baiano, que já contribuiu para a campanha de várias cabeças coroadas do partido, em particular o ex-governador e atual ministro Rui Costa. O TCU entrou no rolo e quer suspender o negócio.
Marcelo Gasparino, representante dos minoritários no conselho da empresa, afirmou em entrevista o que até o sal do pré-sal sabe: os conselheiros nomeados pelo governo tomam decisões políticas que prejudicam a companhia.
O presidente do conselho, Pietro Mendes, nomeado pelo governo, indignou-se, bateu boca, exigiu provas. Gasparino chamou a Comissão de Valores Mobiliários (que já está há um ano investigando a eleição de Mendes, considerado inelegível).
A Justiça Federal de São Paulo meteu a colher e afastou Mendes por conflito de interesse (ele é também secretário de petróleo e gás do Ministério das Minas e Energia). Se o governo não conseguir reverter a decisão até sexta, o conselho elegerá novo presidente. E o governo não terá o controle da decisão.
O senador Ciro Nogueira, investigado por corrupção no petrolão, mas sempre interessado no bem da Petrobras, quer convocar Mendes ao Senado para esclarecimentos.
A empresa está em turbilhão há um mês, a cotação cai, o governo se desgasta e a popularidade do presidente despenca, mas Lula nada faz.
Verdade seja dita, a crise na Petrobras vem sendo gestada desde o início do governo, que nomeou conselheiros inelegíveis, interfere onde não deve (e sem saber direito o que pretende) e sempre tolerou a disputa permanente entre Alexandre Silveira e Jean-Paul Prates.
A Petrobras é a maior empresa brasileira, uma referência nacional, e está sendo tratada de maneira amadorística e irresponsável. A gente já viu esse filme, e ele termina com prejuízo de dezenas de bilhões de reais ao bolso do contribuinte.
(Por Ricardo Rangel em 15/04/2024)