Três títulos mundiais da seleção nas páginas de VEJA
Em 1970, revista exaltou o futebol genial de Pelé e cia.; em 94, vencemos sem brilho e, em 2002, Ronaldo e Rivaldo sobraram
VEJA começou a circular em 1968, quando a seleção brasileira já era bicampeã mundial após os triunfos de 1958 e 1962. Desde então, em seus 49 anos, cobriu com o alto padrão de qualidade que costuma ter todas as Copas do Mundo, com reportagens históricas. Aproveitando a entrevista do técnico Tite na edição que vai às bancas nesta semana, há seis meses do Mundial da Rússia, ReVEJA recorda as três taças que ilustraram as capas da revista (1970, no México; 1994, nos Estados Unidos; e 2002, Coreia do Sul/Japão).
Em 1970, o título foi celebrado com a louvação do bom futebol de Pelé, Tostão, Rivellino e cia. “A surpresa não está na vitória do Brasil, indiscutivelmente o melhor, mas na vitória de um maravilhoso futebol ofensivo, depois do predomínio cada vez mais acentuado, nos últimos oito anos, do futebol das retrancas e das defesas cerradas.”
Entre descrições de rara elegância dos lances do jogo, os repórteres de VEJA foram buscar em um jornalista espanhol a frase mais enfática: “Impressionado com as vitórias brasileiras, o jornalista espanhol Pedro Escartín, 68 anos, ex-juiz de futebol, teve esta frase no reservado de imprensa do Estádio Jalisco: ‘O Brasil nos comove porque joga um futebol de exceção’. Escartín se referia à insistência com que a seleção brasileira procura o gol, numa época marcada pelo jogo defensivo.”
E a reportagem segue a análise: “Provavelmente teria sido mais inteligente procurar copiar (ou adaptar) métodos de treinamento físico, preparação específica para jogadores de acordo com as funções em campo. E, apesar da feia derrota de Liverpool em 1966, ainda resiste à ideia de que futebol é mesmo com brasileiro, e ninguém mais.
(…) Na parte tática, Zagalo não fez nenhum milagre. Apenas adaptou à sua concepção um esquema que praticamente já existia desde o tempo de Saldanha. O que coloca essa seleção à frente do futebol brasileiro são as novas funções que os próprios jogadores se atribuíram, como a disposição permanente de brigar pela bola. Esquematicamente, o Brasil é um time que joga no 4-3-3, mas qualquer numeração desaparece, por exemplo, quando se vê o time todo se defendendo na hora em que está sendo atacado.
Além disso, essa seleção definiu um novo conceito de velocidade, fundamental para o futebol moderno. Até agora, acreditava-se que a velocidade do jogo é a velocidade da bola. A atual seleção está provando que a velocidade do jogo é a velocidade do jogador (inclusive quando ele não está com a bola).
Leia a reportagem do título de 1970 clicando aqui.
Vieram sucessivas decepções em Mundiais, entre as quais a mais triste da história, a derrota da fortíssima seleção de 1982 de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior e muitos outros craques. O quarto título da história do país só veio mesmo em 1994, na Copa dos Estados Unidos. A seleção comandada por Carlos Alberto Parreira venceu novamente na decisão a Itália, dessa vez nos pênaltis.
“Uufaaa! Que sufoco! Foi nos pênaltis, mas o Brasil chegou lá. A seleção venceu, mas quase matou o Brasil do coração. Foi a primeira vez, em 64 anos de Copa do Mundo, que uma final foi decidida nos pênaltis.”
A matéria da edição especial do tetra mostrou que a qualidade do futebol brasileiro não foi das melhores, mas superou de forma justa todas as adversárias. “O Brasil tetracampeão do mundo reuniu um grupo de jogadores que não são poetas da bola. Mas eles saíram dos Estados Unidos como os donos da bola — até 1998.”
“Em números, é flagrante a superioridade brasileira sobre as outras 23 equipes que foram à Copa do Mundo dos estados Unidos. Até a véspera do jogo contra a Itália, a seleção de Romário e Bebeto havia marcado onze gols. É o melhor saldo da competição. (…) Na média, ainda na contagem anterior do jogo de domingo, cada time estufou as redes adversárias 5,7 vezes, contra as onze cravadas brasileiras.”
No especial, vale a pena ler o perfil do craque da Copa, o atacante Romário, hoje senador da República: A raposa em pele de porco-espinho. “‘Sou difícil porque sou autêntico’, explica Romário. Autêntico na determinação, no individualismo, na autoconfiança. ‘Eu sou egoísta: se tiver a bola dentro da área e puder fazer o gol, não vou passar a bola’, disse certa vez. Também disse, ainda no ano passado, que queria ser o melhor jogador do mundo, e, portanto, o Brasil teria de ganhar a Copa. Queria ser o melhor, em primeiro lugar, para satisfazer a si próprio. Desde muito jovem glorificava a fama — treinava a assinatura para no futuro distribuir autógrafos.”
A última conquista da história da seleção brasileira foi ocorrer oito anos depois do tetra, na Copa dividida entre Coreia do Sul e Japão. Com atuações impecáveis de Ronaldo Fenômeno e Rivaldo, o Brasil foi avançando até fazer uma final histórica contra a Alemanha do supergoleiro Oliver Kahn, que acabou sofrendo dois gols nos 2 a 0 com dois gols do Fenômeno, artilheiro do Mundial com oito gols.
Leia alguns trechos da edição histórica de comemoração do penta, de julho de 2002:
“O que a seleção brasileira conquistou no domingo no Japão, diante de uma plateia global estimada em mais de 1 bilhão de espectadores, não foi apenas o título inédito de pentacampeão mundial, que enche o país de orgulho. Foi muito mais que isso. O Brasil concluiu em Yokohama a maior epopeia futebolística já vivida por uma nação, coroando uma trajetória de 44 anos construída em Estocolmo, Santiago, Cidade do México e Los Angeles, palco das inesquecíveis vitórias anteriores. No já histórico 30 de junho de 2002, ao vencer a Alemanha por 2 a 0, o Brasil alcançou uma hegemonia nos gramados que nenhum adversário terá condições de suplantar nem sequer igualar tão cedo. Os gols de Ronaldo, artilheiro desta Copa do Mundo, deixaram o Brasil numa posição insuperável.
(…) Por muitos anos calam-se as discussões sobre se temos ou não o melhor futebol do mundo, uma dúvida muito mais presente no Brasil que na Europa, onde a seleção da camisa amarela é sempre vista com reverência.
(…) No futebol, os brasileiros pentacampeões desfrutam da reputação de artistas que os americanos têm no basquete. O Brasil chega às Copas já dono da taça e, ocasionalmente, por alguma dobra imprevisível do destino pode perdê-la para algum outro time.”
A edição traz ainda um rápido perfil de todos os atletas e de Luiz Felipe Scolari, técnico responsável por unir o grupo em torno do que ficou conhecida como a família Scolari. Vale ler página por página.