Com Bonner e Fátima, ‘Jornal Nacional’ reencontrou o prumo
Após flertar nos anos 1990 com a fórmula dos programas populares, noticiário retomou sua vocação original, a da notícia, nos anos 2000

Pressionado pela concorrência, o Jornal Nacional flertou nos anos 1990 com a receita dos programas popularescos e arriscou o principal ativo de um programa jornalístico: sua credibilidade. Em julho de 1998, poucos meses após Fátima Bernardes se juntar ao marido William Bonner na bancada, o programa dedicou intermináveis 10 minutos ao nascimento da filha da Xuxa, a Sasha, e 4 ao leilão da Telebrás, no dia seguinte. Em setembro do mesmo ano, dedicou 1 minuto e 24 segundos aos cortes do Orçamento e mais de dez minutos ao acidente com o ator Danton Mello em Roraima. Um caso extraconjugal de uma macaca de zoológico mereceu duas extensas reportagens. E ainda assim, a audiência caía, como mostrou reportagem de VEJA daquele ano.
Eventualmente, em 1999, o ‘Jornal Nacional’ acabou recuando das fórmulas prontas e reencontrou seu prumo. Na edição de 1º de setembro de 2004, reportagem de VEJA mostrava que o programa, em boa fase, voltara a ampliar a vantagem sobre a concorrência ao retomar sua vocação original, a da notícia. Pesquisa com grupos de discussão mostrava que o espectador do JN “não quer saber de imagens de impacto nem de perder tempo com coberturas irrelevantes”. “Somos vistos por famílias inteiras, e eu estaria traindo o telespectador se exibisse imagens capazes de chocar seus filhos”, explicava o apresentador, que estampou a capa da revista – ao lado de Fátima, claro.
A reportagem de VEJA também revelava o teor do livro Jornal Nacional – A Notícia Faz História, em que um time de historiadores contratados pela emissora enfrentava os temas mais espinhosos dos 35 anos do JN, entre eles a cobertura para lá de dúbia das Diretas Já, em 1984, e a edição do debate entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor, em 1989, que contrapôs os piores momentos do petista aos melhores do candidato rival.
VEJA também narrava os bastidores da operação de guerra que resulta no jornalístico campeão de audiência, desde a definição de pautas até a edição final – que às vezes tem de ser totalmente modificada com o programa já no ar. Foi o aconteceu no dia da morte do deputado federal Luís Eduardo Magalhães. O JN foi todo reeditado para encaixar entradas ao vivo direto de Brasília. “Foi um susto para nós, mas por outro lado essa adrenalina de fazer as coisas ao vivo é sempre estimulante”, dizia Fátima. “Por causa de situações como essa, a tensão em torno da feitura de um telejornal só se dissipa no instante do ‘boa-noite’ final”.
Leia em VEJA de 1º de setembro de 2004: O Jornal Nacional que você nunca viu
Leia em VEJA de 30 de setembro de 1998: O que está acontecendo com o JN?